A diferença entre fazer política e fazer lambança

"A rusga pública entre Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, do PL, é uma lambança - e não do cacique do partido. A pergunta óbvia é por que Bolsonaro, na semana passada, ao combinar o “ noivado” com Valdemar, não tratou do desenho de candidaturas estaduais como a de São Paulo?", observa a jornalista

(Foto: Stuckert | Marcos Corrêa/PR)


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Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

A indicação de Geraldo Alckmin para a vice do ex-presidente Lula está no plano da incerteza - e bota incerteza nisso. Mas a articulação que os aproximou publicamente, entre elogios mútuos, por si só já foi positiva para os dois - mostrando aos eleitores de um e outro que, de alguma forma, estarão juntos contra o bolsonarismo, no primeiro ou no segundo turno. E talvez até num eventual futuro governo, colaborando para a governabilidade.

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Isso se chama fazer política - uma atividade na qual Lula e Alckmin são craques. Do outro lado do campo, o que se vê é um show de incompetência - que poderia estar perfeitamente num manual de como não fazer política.

A rusga pública entre Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, do PL, é uma lambança - e não do cacique do partido. A pergunta óbvia é por que Bolsonaro, na semana passada, ao combinar o “ noivado” com Valdemar, não tratou do desenho de candidaturas estaduais como a de São Paulo? Ou não houve negociação política real ou alguém está mentindo para alguém.

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Nos dois casos, chegamos ao caso inédito de um presidente da República - o sujeito que tem a caneta e a máquina na mão - sem partido e sem maior influência política na própria base a 11 meses da disputa pela reeleição. Ao ficar esse tempo todo sem partido - dois anos -, Bolsonaro perdeu o passo das negociações eleitorais nos estados, e também para a eleição do Congresso, nos principais partidos do Centrão.

Os arranjos avançaram no PL, no PP e no Republicanos, que trataram de fazer suas alianças com o objetivo de eleger bancadas mais fortes - obviamente para negociar em 2023 com o novo presidente da República, seja ele quem for. É por aí que o PL de São Paulo, por exemplo, decidiu apoiar a candidatura do neotucano Rodrigo Garcia em São Paulo. É claro que recebeu alguma coisa de João Doria - que pode ir de uma promessa a espaços no governo paulista e até muito mais.

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Vai desfazer agora o acerto para abrigar Bolsonaro em seus quadros? Pode ser, mas o Brasil eleitoral é enorme, e nem no PL e nem no PP e no Republicanos -  suas outras relutantes opções -  o presidente candidato terá o que quer, que é o domínio da máquina e das escolhas de candidaturas nos estados. Até por uma razão pragmática: a aprovação de Jair Bolsonaro cai nas pesquisas, e a atração que um potencial perdedor exerce entre os partidos é significativamente menor do que aquela de um candidato que está na frente nas pesquisas.

Diz um velho ditado que o apressado come cru. Na política, o atrasado corre o risco de passar fome - ou ter que engolir qualquer coisa para sobreviver.

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