A descomemoração do golpe de 1964 não anula a necessidade de condená-lo para sempre
A descomemoração oficial do golpe militar de 1964 é uma vitória democrática do povo brasileiro
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Por José Reinaldo Carvalho, 247 - É um fato auspicioso que o aniversário do golpe militar de 1964 não seja mais comemorado nos quartéis nem tema de laudatórias ordens do dia assinadas pelo Alto Comando. O golpe militar instaurou o pior regime político de toda a história brasileira, um regime fascista, dirigido por generais facínoras, que não se detiveram na perpetração de crimes de lesa-humanidade e lesa-pátria, como instrumento subalterno e abjeto do imperialismo estadunidense no quadro da guerra fria . Quando julgou necessário, o regime recorreu a métodos fascistas de governo, entre estes uma feroz e degradante repressão policial-militar, cujo consagrado método foi a tortura e o assassínio de opositores.
O golpe militar de 1964 correspondeu à reação das classes dominantes reacionárias brasileiras à maré montante do movimento democrático, popular e trabalhista por reformas de fundo na carcomida estrutura social do país. Objetivamente, a sociedade brasileira não tinha outro caminho para avançar no sentido do desenvolvimento nacional e do progresso social que não fosse a ruptura com tais estruturas.
Foi também a reação do imperialismo estadunidense à ascensão do movimento por independência nacional que se somava a outros processos de luta na região latino-americana e caribenha. Os Estados Unidos temiam que os países da região se transformassem em forças de peso na luta anti-imperialista e a superpotência do Norte visse ameaçado o seu domínio, o que tornaria mais difícil o enfrentamento à União Soviética. Por isso, os Estados Unidos intervieram diretamente no desenvolvimento da situação política brasileira e tornaram-se o fator decisivo do golpe, em conluio com as classes dominantes, políticos civis ambiciosos pelo poder e as Forças Armadas. É preciso ressaltar que a “ameaça comunista” do movimento popular brasileiro pelas reformas de base de João Goulart não passava de uma visão fantasiosa e conspirativa dos generais reacionários para ter um pretexto que justificasse sua ação antidemocrática.
A descomemoração neste ano do golpe militar de 1964 - depois de quatro anos de exaltação promovida pelo governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro - é uma vitória democrática do povo brasileiro, fruto da eleição do presidente Lula. No âmbito dessa vitória, processa-se lentamente na cúpula das Forças Armadas uma mudança de atitude, transitando no sentido de uma ação legalista. O tempo dirá se esse legalismo permanecerá ou se se trata apenas de uma manobra para escapar à condenação de oficiais comprometidos com os crimes de Bolsonaro e sua gestão destruidora do país.
Infelizmente, o Comando que promove o legalismo, não dá nenhum aceno no sentido de alteração do caráter antidemocrático das Forças e de desistência das estratégias e táticas políticas de intervencionismo na vida nacional. Muito menos no sentido de fazer na prática uma retificação profunda de todos os métodos empregados na repressão aos patriotas e democratas. Seria necessário proceder a uma condenação séria do golpe militar para as Forças se reconciliarem com a Nação.
Por isso, é necessário que a cada 31 de março e 1º de abril, as forças democráticas, patrióticas e progressistas do país reavivem a memória dos brasileiros sobre o que foi o regime militar. De todos os regimes e formas de governo a que as classes dominantes recorreram no período republicano para assegurar o poder político, a ditadura dos generais foi o mais danoso à democracia, aos direitos humanos, aos direitos sociais e à soberania nacional. Sua essência foi o caráter antipopular e antinacional. Foi um regime que causou irreversíveis danos ao país, abrindo feridas ainda hoje não cicatrizadas.
Com a aproximação do 60º aniversário do golpe militar, o povo brasileiro tem o direito de denunciar o regime que daí resultou e de condenar suas ações atrabiliárias e crimes. Não por revanchismo, mas para que não se repitam jamais.
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