A derrota da democracia

'Não foi a derrota de um candidato, de um partido ou da esquerda. Foi uma derrota da democracia, quando quem é eleito despreza a democracia e elogia a ditadura, faz apologia da tortura, diz que a ditadura deveria ter matado 30 mil pessoas", diz o colunista do 247 Emir Sader; para ele, a discriminação das minorias, a criminalização dos movimentos sociais, bem como 'o momento em que quem liderava todas as pesquisas para triunfar no primeiro turno foi condenado sem provas, conforme o juiz que o condenou, só com convicções', apenas confirmam a entrada do país em um regime de exceção; para ele, 'a derrota da democracia é sempre a derrota do povo, do país, da soberania e da dignidade nacional'

A derrota da democracia
A derrota da democracia (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)


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Não foi a derrota de um candidato, de um partido ou da esquerda. Foi uma derrota da democracia, quando quem é eleito despreza a democracia e elogia a ditadura, faz apologia da tortura, diz que a ditadura deveria ter matado 30 mil pessoas. Quando quem ganhou discrimina as mulheres, os negros, os estudantes, os LGBT, os professores, os servidores públicos, perdeu a democracia.

Quando se propõe a extinção do Ministério do Trabalho, se quer o retorno do que havia antes: "Questão social é questão de polícia", do Washington Luís. Perde a democracia. Quando se propõe a violação da autonomia universitária, perde a democracia.

A democracia foi derrotada desde o momento em que quem liderava todas as pesquisas para triunfar no primeiro turno foi condenado sem provas, conforme o juiz que o condenou, só com convicções. Direito que não se baseia em provas, não é direito. A democracia seguiu perdendo quando o STF declarou, reiteradamente, isento esse juiz. Quando, posteriormente, foi preso sem a presunção de inocência, prevista na Constituição. E foi impedido de concorrer, sem fundamento jurídico algum.

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A democracia voltou a ser derrotada, quando uma gigantesca campanha de notícias falsas, difundidas por milhões de robôs, foram difundidas, financiadas por empresários, cometendo crime eleitoral, que o TSE deixou passar barato.

A democracia foi derrotada, quando o eleito condenou seus adversários à prisão ou ao exilio. Quando desqualificou órgãos da imprensa e excluiu a vários deles de sua entrevista coletiva.

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Enfim, quando uma presidenta eleita foi destituída sem nenhuma alegação jurídica suficiente, se rompia com a democracia. Quando se governa, no lugar dela, com o programa neoliberal da oposição, que havia sido derrotado por quatro vezes, sucessivamente.

O Brasil passou a viver um regime de exceção, em que o Judiciário se cala diante das maiores violações da Constituição, em que os meios de comunicação condenam as pessoas sob simples suspeita, em que o habeas corpus é concedido para uns e não para outros.

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Para consolidar o regime de exceção, o juiz que perseguiu e excluiu o candidato favorito, aceitou ser ministro do governo que se beneficiou dessas medidas. Um juiz que aceita participar do governo de um presidente que se pronuncia a favor da pena de morte, da ditadura militar e da tortura.

Estamos no limbo constitucional, sem Judiciário, sem meios de comunicação democratizados, com um presidente que envergonha o país no exterior, ainda mais do que o atual ha havia feito. Com um governador eleito do Rio que diz que governar é cavar túmulos, que prega a execução sumária pela polícia de pessoas de que se desconfia que portem armas, que prega o bombardeio de zonas consideradas perigosas, como a Rocinha, onde ele nunca esteve, mas considera como zona perigosa.

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Entramos num regime de exceção em que a democracia é a principal vítima, junto com os direitos dos trabalhadores, o mundo da cultura e da educação. Em que as profissões de maior risco passam a ser jornalistas, professores, artistas.

Perdeu a democracia, porque segue a brutal crise econômica e social em que o país foi jogado, com 27 milhões de desempregados e a ameaça de falsificar os critérios para calculá-los, em lugar de lutar contra o desemprego.

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O túnel em que o Brasil foi metido não tem ainda prazo para terminar. A derrota da democracia é sempre a derrota do povo, do país, da soberania e da dignidade nacional.

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