A democracia voltou a respirar sem aparelhos
A reconstrução do país exigirá de nós um esforço de sustentação do governo Lula e de crítica às medidas que se distanciem da frente democrática vitoriosa
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O primeiro artigo que escrevi no 247, em 16 de setembro de 2019, teve como título: “Um governo autoritário da democracia”. Nele, procurei mostrar que, passados 8 meses do governo Bolsonaro, havia uma clara intencionalidade do presidente da república de fazer com que o Brasil passasse a ser governado de maneira completamente autoritária.
Durante cerca de 3 anos, entre aquele 16 de setembro e o 30 de outubro de 2022, mantive a respiração em suspenso, sempre esperando pelo pior, isto é, pela imposição de um golpe que jogaria por terra as conquistas inscritas na Constituição Federal de 1988 e o Estado de Direito Democrático erigido dos escombros do regime ditatorial parido em 31 de março de 1964.
Para além do sofrimento da pandemia da covid-19, potencializado pela criminosa inação de Bolsonaro, Pazuello et caterva, foi no 7 de setembro de 2021 o momento limite no qual mais estivemos próximos da travessia de “um governo autoritário da democracia” para um “governo autoritário tout court” – uma passagem não realizada graças à resistência do STF.
Isso não significa dizer que, durante a campanha eleitoral de 2022, particularmente nos 28 dias que separaram os resultados do primeiro turno e a vitória apertada do Lula no segundo turno, não tenhamos vivido com apreensão a possibilidade de que Bolsonaro poderia ter virado o jogo com a ajuda da máquina pública e, de novo, na base da divulgação em massa de fake news.
Igualmente, até o próximo 1º de janeiro, com a posse do Lula para o seu terceiro mandato presidencial, e por um período de tempo difícil de se precisar ao certo, ainda teremos de conviver com as vozes do esgoto autoritário que emergiram desde 2016 e seus propósitos de sepultar a soberania popular e os valores democráticos vitoriosos em 30 de outubro.
Certo é, porém, que passamos pelo pior nos últimos 6 anos, em especial pelos 4 anos do governo Bolsonaro. Tão certo quanto a perspectiva de que a reconstrução do país nos próximos 4 anos exigirá de todos/as nós um esforço de apoio e sustentação do governo Lula, bem como de crítica às medidas que se distanciem dos ideais da frente democrática vitoriosa em 30 de outubro.
Ao escrever o meu centésimo artigo nesse espaço do 247, sinto-me aliviado por observar que a nossa democracia voltou a respirar, não mais com a ajuda de aparelhos, mas com seus próprios pulmões, que se encontram fragilizados por terem durante tanto tempo entrado em contato com um oxigênio intoxicado de impurezas fascistas, mas que continuam vivos.
Concluo fazendo o devido reconhecimento ao 247 por nunca ter feito nenhuma espécie de interferência – seja de forma ou de conteúdo – nos artigos que escrevi no seu blog, bem como nas 190 edições do Trilhas da Democracia, que coordenei e apresentei na sua TV, no decorrer desses dificilíssimos 4 anos de resistência.
Um reconhecimento que infelizmente não posso fazer à instituição federal de ensino superior em que trabalho desde 2004, tendo em vista o fato do seu reitor em exercício ter preferido o caminho da imposição da censura sobre um vídeo jornalístico na sua TV universitária à “exposição” do nome de Bolsonaro, em meio ao descalabro da pandemia da covid-19 e do pandemônio autoritário.
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