A cúpula da multipolaridade e da discórdia
O objetivo dos Estados Unidos e aliados da Otan e G7 era tão somente condenar a Rússia, mas fracassaram, escreve o jornalista José Reinaldo Carvalho
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Por José Reinaldo Carvalho, 247 - A Cúpula do G20, realizada nos dias 14 e 15 em Bali, Indonésia, foi o mais relevante acontecimento internacional da semana, mesmo que em meio à realização no Egito da COP27 (Conferência das Nações Unidas Sobre As Mudanças Climáticas), que também se debruçou sobre um dos problemas mais agudos e inquietantes do mundo.
A avaliação sobre a importância da cúpula do G20 toma em consideração a abrangência e a emergência dos problemas econômicos agudos e a grave crise geopolítica decorrente do conflito no Leste da Europa.
De um lado, a 17ª reunião de chefes de Estado e de Governo do G20 pode ser considerada um dos marcantes eventos do novo momento multipolar que o mundo está vivendo. Mas foi também, a olhos vistos, a cúpula da discórdia, reveladora da fragilidade das relações internacionais em um mundo em que as grandes potências imperialistas praticam um multilateralismo de fancaria e buscam impor suas posições hegemônicas, quando se necessita de um multilateralismo genuíno e de iniciativas conjuntas que conduzam ao desenvolvimento compartilhado, à paz, à cooperação benéfica a todas as partes e a uma governança global que parta do pressuposto do equilíbrio.
Nem sempre o G20 foi a expressão da multipolaridade, porquanto na sua origem era uma reunião de ministros de economia e finanças e quando foi criado (1999) sua perspectiva era enfrentar os graves problemas econômicos e financeiros do ponto de vista das potências que mandavam na economia mundial e hegemonizavam a globalização. Em 2008, o G20 tomou novo formato e assumiu-se como uma cimeira de chefes de Estado e de Governo, mas ainda sob a perspectiva do imperialismo estadunidense, então chefiado pelo senhor da guerra George W. Bush. Então a multipolaridade não passava de uma ideia vaga e os sinais de que estava por acontecer não eram tão visíveis. O formato atual do G20 permite um forte protagonismo de países como China, Rússia e países do porte do Brasil, Índia e Argentina, México, Turquia, entre outros.
O documento aprovado em Bali pôs em relevo alguns pontos considerados consensuais em torno de questões como segurança alimentar e energética, mudanças climáticas, luta contra a pandemia de covid, soerguimento de economias digitais e anticorrupção. Para além destes tópicos, ressalta-se o apoio dado pela China à causa do cancelamento da dívida dos países pobres, para ajudá-los com os graves problemas decorrentes da pandemia da covid-19. Mas não há decisões claras sobre a responsabilidade das principais economias do mundo para debelar a crise econômica e social, nem compromisso de encontrar efetivas soluções compartilhadas, o que aliás se reflete, para citar um exemplo, também na COP27, onde as potências imperialistas fazem jogo de empurra e não cumprem as promessas feitas com alarido de compensar os países pobres, subdesenvolvidos e em desenvolvimento por perdas e danos acarretados pela crise climática. Nos momentos cruciais, como é habitual, essas potências revelam suas ambições hegemônicas e dão provas de quão vazios são seus discursos sobre governança global.
Na questão sensível como a dos conflitos e tensões no Leste da Europa, o G20 foi palco de antagonismos insuperáveis. O objetivo dos Estados Unidos e aliados da Otan e G7 era tão somente condenar a Rússia, esquivando-se, também nesse ponto, de assumir responsabilidades com a promoção de negociações objetivas que conduzam à paz ou, no mínimo, a um cessar-fogo. O que é espantoso, se se considera que em essência tal crise teve sua origem na expansão desenfreada da Otan rumo às fronteiras russas e tem sido explorada para intensificar o militarismo.
O máximo que a declaração final conseguiu foi afirmar que o G20 "deplora a guerra na Ucrânia". Ironicamente, na véspera de sua assinatura, o chanceler russo Sergey Lavrov também lamentou que esteja em curso na Ucrânia uma guerra provocada pela Otan e as forças reacionárias ucranianas, que já dura 8 anos, e vitimou mais de 15 mil habitantes da região do Donbass.
Não assiste razão à Casa Branca e seus aliados para cantar vitória com o documento aprovado. O que este mais evidencia é a incapacidade para impor suas decisões em um mundo no qual há forças poderosas que atuam no sentido contrário a seus desígnios imperialistas.
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