A cúpula da Igreja Católica no Brasil e as munições que oferecem à extrema direita
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Em nenhum momento houve flexibilização do aborto no Brasil. O que aconteceu foi a adequação das portarias do governo anterior que, geraram uma contradição entre a legislação em vigor no país e Portarias do Ministério da Saúde do governo passado que extrapolavam o legislado, trazendo condições que o legislador não impôs na formulação da lei.
Neste mesmo sentido, há uma desinformação relacionado à chamada “Convenção de Genebra sobre o Aborto”: Tal documento foi assinado em outubro de 2020, liderado pelo governo Trump e depois assumido pelo governo de Bolsonaro, após a queda do governo de extrema direita norte americano. Tal documento foi assinado por 32 países, dos 188 países signatários da Convenção de Genebra. Aliás, a manipulação da Extrema Direita não encontra limites em sua hipocrisia.
Os extremistas de Direita são essencialmente contrários aos Direitos Humanos, contudo, se utilizaram de uma conjunção de fatores geopoliticos, juntaram os países que mais desrespeitam os direitos humanos no mundo, em Genebra, cujas diretrizes eles rejeitam diuturnamente em suas ações cotidianas.
São esses governos que desrespeitam flagrantemente os direitos humanos como um todo e das mulheres em particular em seus respectivos países que redigiram um documento, evidentemente, sem apoios de países significativos nas lutas pelos Direitos Humanos.
Vejam que, quem assinou essa "aliança", foram países Árabes e Africanos e mais Brasil, EUA, Polônia e Hungria ( os quatro governados, em 2020, por extremistas de direita) e chamam isso de documento da “convenção de Genebra" e isso é aceito como sendo verdade por parte considerável da imprensa brasileira:
Oficialmente chamado de “Declaração de Consenso de Genebra na Promoção da Saúde da Mulher e no Fortalecimento da Família”: Segue a relação dos 32 países que compõem a "aliança" acima citada:
Arábia Saudita, Bahrein, Belarus, Benin, Brasil, Burkina Faso, Camarões, Djibouti,
Egito, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Eswatini (antiga Suazilândia),
Gâmbia, Haiti, Hungria, Indonésia, Iraque, Kuwait, Líbia, Nauru, Níger, Omã, Paquistão, Polônia, Quênia, República Democrática do Congo (antigo Zaire), República do Congo, Senegal, Sudão, Sudão do Sul, Uganda e Zâmbia.
Não é necessário ser especialista em Direitos Humanos, nem um exímio conhecedor de geografia e geopolítica, para dizer que os países acima citados não primam pelos direitos à vida.
Existe um setor da Extrema Direita ocidental e capitalista, que é golpista e se aproveita dessas situações, não porque ama criancinhas, mas porque almejam o poder Político para continuar acumulando riquezas e desprezando os pobres, as minorias e os que querem partilhar os bens produzidos pelo conjunto da humanidade.
Utilizam um argumento falacioso contra o aborto como bandeira para impor restrição de direitos à vida. Querem discutir o aborto, mas são favoráveis à pena de morte. Se dizem defensores da vida mas não acreditam que haja dois terços da humanidade passando fome, sem direito à água e moradia digna, sem acesso à saúde, educação e direitos à liberdade básica. São hipócritas!
A cúpula da Igreja Católica no Brasil precisa, urgentemente, refletir sobre o discurso anti abortista que dá guarida à extrema direita política, que é essencialmente contrária à vida em sua essência. A elite religiosa e econômica que diz defender a vida desde a concepção até a morte natural, é em grande medida a mesma elite que se preocupa mais com os prédios e o acúmulo de riquezas do que com a vida que diz defender.
A hipocrisia do discurso contra o aborto, utilizado como bandeira política e usando a influência e o poder que a Igreja Católica ainda detém no meio da sociedade, tem sido usado para destruir a própria Igreja, pois é utilizado pelos pitbulls de um cristianismo da prosperidade, que distancia as pessoas dos ensinamentos que tem como fonte exclusiva o Evangelho que acolhe a mulher em todas as suas angústias, em diversas passagens.
Por exemplo, que sentido faz ter uma mulher vitima de estupro num hospital, comunicar a polícia sobre a ocorrência de situações de aborto, previstos em lei?
O que a polícia entende sobre o aborto, e a condiçao específicas das mulheres nesse contexto? O que deve ser reprimido não é a violência sofrida? A mulher nessa situação deve ser reprimida ou investigada pela polícia?
Nessas situaçoes, como em casos de estupro, por exemplo, em que as mulheres sao vítimas e estão extremamente vulnerabilizadas, a igreja pensa em defender medidas que dificultam seu acolhimento, defesa e denúncia do crime? Não percebe o quanto isso é cruel para com tais mulheres?"? A Cúpula da Igreja Católica defende isso? Não é possível!
Qual sentido é ter a Pastoral da Mulher Marginalizada em sua estrutura de organismos internos, se estas mulheres não são ouvidas? É para evangelizar, proteger e acolher ou apenas serve para fazer propaganda?
O discurso ausente de caridade e compaixão, uníssono contra o aborto, não geram vidas. Se fossem consideradas vidas, estaria inserido neste discurso, o direito inalienável à dignidade humana acompanhada de uma prática acolhedora e sem julgamentos. (Jo 8-10,11), haveria também amor sem medida à todas as mulheres vitimas do abandono masculino, da violência de relacionamentos abusivos e a compreensão sobre mulheres estupradas em seus corpos e almas por homens, que não raramente, se dizem contrários ao aborto.
O aborto não é uma opção. O aborto é uma realidade que esta acima da religiosidade utilizada para fazer política de extrema direita. Nenhuma mulher estuprada faz um aborto por prazer.
O que se discute aqui é o aborto originado de um estupro, de fetos anencéfalos e gravidez com risco à vida da mãe. Abortos esses, tipificado em lei, instroduzido à legislação nacional como um avanço civilizatório, contra a morte de mulheres que tem o direito à primazia da vida.
No Brasil, hoje, ocorrem anualmente mais de um milhão de abortos clandestinos. Esses números precisam parar de ser estatísticas e passar a ser política pública, inclusive no intuito de evitá-los.
Há um número incontável de meninas (adolescentes e jovens em sua maioria) que abortam por medo de contar à família sobre seu estado de gravidez. Parte delas, morrem ou ficam sequeladas pelo resto da vida, inclusive não podendo mais engravidar em razão de abortos clandestinos. Este medo de falar não é um medo sem sentido ou razão. Quando falam, elas são espancadas violentamente dentro de suas casas, são seviciadas por irmãos, mães e pais, são humilhadas e não raramente expulsas do convívio familiar.
Se falam na Igreja, padres e pastores, dirão que irão para o inferno! Que Igreja é essa? Que amor divino é esse? Em tempos de Igreja Sinodal, nada poderia ser mais contraditório.
Se tivessem elas, acolhida e conforto por parte da família, da Igreja e da sociedade, se tivessem elas apoio dos que se dizem contrários ao aborto, certamente, estes abortos poderiam ser evitados, mas por uma cultura, fruto de uma hipocrisia machista, patriarcal e misógena e de uma religiosidade letalista e punitivista, tal fato não acontece.
Além disso, uma parcela enorme dos hipócritas que se dizem contrários ao aborto, pagam para que suas filhas e amantes abortem filhos indesejados.
*Assim disse Papa João Paulo II em Salvador, em 1991:* _“Se ser criança é tão importante, então todas as crianças são importantes, todas as crianças são importantes, todas! Não pode nem deve haver crianças abandonadas. Nem crianças sem lar. Nem meninos e meninas de rua. Não pode nem deve haver crianças usadas pelos adultos para a imoralidade, para o tráfico de drogas, para as pequenas e grandes infrações, para a prática do vício. Não pode nem deve haver crianças amontoadas em centros de triagem e casas de correção, onde não conseguem receber uma verdadeira educação. Não pode nem deve haver, é o Papa quem pede e exige em nome de Deus e de seu Filho, que foi criança também Jesus, não pode nem deve haver crianças assassinadas, eliminadas sob pretexto de prevenção ao crime, marcadas para morrer! Vocês querem que todas as crianças sejam felizes? Querem uma cidade, um Estado, um País, sem crianças abandonadas e meninos e meninas de rua?”._
Não restam dúvidas de que todas essas crianças, a quais Papa João Paulo II se referia, não foram abortadas. Mas antes delas e depois, houve por parte da Igreja e dos que se dizem contrários ao aborto, jamais houve a mesma preocupação e defesa enfática e mais do que isso, a pratica libertaria do direito à dignidade humana com a mesma enfase que há com relação ao tema do aborto? Não consigo enxergar essa realidade.
Esse discurso não gera vidas, geram pessoas que em grande número, foram e serão ceifadas pela violência dos esquadrões da morte, ou pela fome, pela miséria, pelo desrespeito às mulheres vítimas de toda sorte de violências, onde a Igreja desgraçadamente não vê, não ouve e pior, não atende esses clamores. E na maioria das vezes por elas passam pessoas que dizem ser contrárias ao aborto.
O que posso dizer é que sou contrário ao aborto sim, mas mais que isso, sou favorável aos direitos humanos e aos direitos de toda mulher, para que possam ter a dignidade preservada e garantida conforme previstos na legislação brasileira, assim sendo, tenham garantidos e asseguradas as condições necessárias para preservar a primazia a vida em sua plenitude. Nesse sentido, é essencial ouvirmos as palavras de Papa Francisco, na exortação apostólica, "Gaudete et Exsultate" (Alegrai-vos e Exultai)
*_101 …da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte.[84] Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente..._*
O estado democrático de direito é o único caminho por onde mulheres vítimas de violência terão apoio e acolhida por parte do estado, pois falta isso em Igrejas e na sociedade. O aborto não é um ato de desvinculação apenas da vida. Por trás do aborto há um abandono de explicito atores masculinos, incluindo ai, religiosos que pelo uso da força hegemônica trazida por uma cultura machista e patriarcal, onde a escuta é a primeira ação a ser ceifada.
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