A cruz e o cristo
A cruz é o símbolo maior do marketing reverso; um case. A cruz, quem tem ouvidos para ouvir que ouça, foi o primeiro outdoor da história. Ela servia como propaganda do terror. Lembrai-vos sempre do honroso Spartacus
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A cruz é o símbolo maior do marketing reverso; um case.
A cruz, quem tem ouvidos para ouvir que ouça, foi o primeiro outdoor da história.
Ela servia como propaganda do terror.
Lembrai-vos sempre do honroso Spartacus.
O herói dos desvalidos arregimentou um exército de milhares de escravos e fez frente ao império; mas a sedição foi massacrada e os revoltosos foram pendurados no madeiro.
O general Marco Crasso - que satanás churrasqueie sua alma - ordenou que fossem crucificados seis mil seguidores do Deus dos Escravos, em um só dia, na via Apia.
Era o fim da Guerra Servil.
A crucificação, é bom que se diga, era acompanhada de cusparadas, chibatadas e desaforos, provocando tortura física e psicológica.
Transeuntes que passavam pelo caminho – oh, via dolorosa! - viam aquele espetáculo horroroso e eram instantaneamente dissuadidos dos seus desejos de revolta.
Esse instrumento de propaganda foi importado da Pérsia.
Quase cem anos depois de Spartacus, o Cristo foi pendurado numa trave também com essa didática cruel: "veja o que acontece com quem enfrenta o império".
Mas aí veio o cristianismo e a cruz, que simbolizava a tortura, a crueldade e a força do império, converteu-se no ícone da candura, da paz e do amor.
Símbolo da redenção dos escravizados.
Assim, o cristianismo ressignificou aquele objeto.
O mesmo significante, evocando a mesma imagem acústica, mas com um novo significado.
Matéria vasta para a linguística e para a psicologia.
Por que falo isso?
Desculpem-me, oh iminentes desocupados. esqueci de me apresentar.
Estava, nesse finde, em um ascético retiro pré-carnavalesco numa praia remota e deserta.
Nu, como convém a um santo e a um çábio.
E em orações masturbatórias e tântricas, como convém aos que convivem no convento de Onã.
Oh, Glória! - eu gritei no 11 de setembro - Osama nas alturas!
Dito isto, digo mais.
Um homem de sobrenome Cruz, chamou-me de Cristo nas redes sociais, dizendo que os dois, cruz e Cristo são uma coisa só, e que ele e os amigos queriam saber o que eu, mimetizado em Cristo, teria a dizer.
Então eu disse:
Homens de por café, em verdade vos digo: aquele que invoca a figura invocada e mística de um santo, ou busca alívio para a própria alma, e para isso há de pagar o dízimo - pois a graça não é de graça nem no circo - ou quer fazer safadeza.
Na primeira opção, falta o depósito das espórtulas (quem não pagar o dízimo será dizimado); já para a opção dois é melhor bater em outra freguesia.
Mestre Cafuna não se deita com homens, nem de valete.
Quando Cruz diz (cruzes!) que ele e eu somos a mesma pessoa é porque, quando pregaram-me no madeiro, viramos, eu e aquela trave, a mesma coisa.
Tanto assim é que você vai encontrar em altares e em pescoços de piriguetes a cruz e não o Cristo, porque um e outro são como a mesma coisa.
Cruz é, portanto, apenas um pedaço de madeira morta, um tronco arrancado de forma vil e mal intencionada, símbolo maior da desgraça e da redenção de um ser mítico mimetizado em mística criatura.
Percebe-se portanto que, sem eu, Cruz seria apenas uma avenida para formigas, morada de cigarras, descanso para aves, encosto para homens mijar, escora para sarração adolescente e para escarro de velhos doentes.
Nas mãos de um carpinteiro qualquer, Cruz teria virado tamborete de vaqueiro, uma perna de pirata ou de uma mesa de algum palácio, cassetete de meganha ou estrado de cama de motel.
Cruz não é senhor do seu destino.
Joguete nas mãos dos homens, ser inanimado, pau de fogueira, bastão de pole dance, pau-de-sebo, pau-de-arara.
Sem mim, o senhor Cruz seria apenas um mero alicerce de casas de Joões-de-Barro.
Cada um carrega a sua cruz.
Eu sou o único que a Cruz é quem me carrega.
E mais num disse e nada mais me foi perguntado.
Palavra da salvação
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