A crucificação de uma transexual: o movimento LGBT na berlinda

O movimento LGBT está sendo mais uma vez crucificado, sendo apontado como sujo, amoral, inimigo da família, e das crenças religiosas, como se eles próprios não tivessem mães, pais, não fossem cristãos ou não acreditassem em Deus

O movimento LGBT está sendo mais uma vez crucificado, sendo apontado como sujo, amoral, inimigo da família, e das crenças religiosas, como se eles próprios não tivessem mães, pais, não fossem cristãos ou não acreditassem em Deus
O movimento LGBT está sendo mais uma vez crucificado, sendo apontado como sujo, amoral, inimigo da família, e das crenças religiosas, como se eles próprios não tivessem mães, pais, não fossem cristãos ou não acreditassem em Deus (Foto: Chico Vigilante)


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A liberdade de expressão sobre identidade sexual, antes de ser um problema moral é uma questão antropológica, cultural e religiosa que merece uma séria reflexão.

É certo e cristalino que somos todos iguais, independente de credo, raça, gênero ou opção sexual, perante a Constituição brasileira e, certamente, perante Deus.

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Por que então, está causando tanta celeuma, um crucifixo usado pelo movimento LGBT para caricaturar o aumento do sofrimento a ele imposto por setores da população que se acham acima do bem e do mal?

A transexual crucificada surtiu, em alguns setores, o efeito exatamente contrário: o movimento LGBT está sendo mais uma vez crucificado, sendo apontado como sujo, amoral, inimigo da família, e das crenças religiosas, como se eles próprios não tivessem mães, pais, não fossem cristãos ou não acreditassem em Deus de forma generalizada.

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Até ai nenhuma novidade, pois sabemos que existe um preconceito arraigado na sociedade brasileira contra homossexuais, assim como contra negros e outras minorias.

Mas de quem será a responsabilidade pela orquestração via internet da imensa onda de internautas “indignados” nas mídias sociais nos últimos dias, sobre o fato?

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Quem estará por trás das pregações de ódio e intolerância típicos de homofóbicos?

Não vemos tomar conta do país a mesma fúria nas manifestações quando gays, lésbicas, travestis ou transexuais são mortos, numa média de um homicídio a cada 28 horas.

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Não vemos líderes evangélicos políticos e religiosos discursando horrorizados com estatísticas apontando que o número de assassinatos de homossexuais cresceu 14,7% nos últimos quatro anos e que 99% deste tipo de crime foram motivados por homofobia.

O Brasil segue como campeão mundial em homicídios de homossexuais: de cada cinco gays ou transgêneros assassinados no mundo, quatro são brasileiros.

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O que será que os pastores evangélicos brasileiros, alguns deles inexplicavelmente portadores de passaportes diplomáticos, dizem fora do país, quando indagados a respeito das sinistras cotas de mortes de homossexuais e transexuais no Brasil.?

Por acaso afirmam em seus meios de comunicação espalhados pelo país, que em seus templos a comunidade LGBT é tratada como manda o Evangelho ?

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Os últimos acontecimentos da parada LGBT mostram que o problema parece maior do que é quando mexe com o preconceito e o interesse de líderes conservadores nas igrejas e no parlamento brasileiro.

Além de pregarem a teologia da prosperidade, segundo a qual o progresso material é resultado dos favores de Deus, defendem ideias retrógradas de que o único núcleo de família aceitável é o de um homem e uma mulher.

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Por que nunca fizeram tuitaços quando a revista Veja fez uso do crucifixo com o título “ Brasileiro Crucificado “?; ou pela revista Placar com “ A crucificação de Neymar “?

Casos muito mais graves de desrespeito religioso como os fanáticos religiosos que urinaram na imagem da Virgem Maria, na Paraíba; o pastor da Universal que chutou Nossa Senhora; e o grupo de evangélicos que cercou ameaçadoramente um centro espírita para exorcizar o capeta, causando a morte da mãe de santo, não foram criticados veementemente nas mídias sociais. Por quê ?

Obviamente porque não era interessante armar um teatro de fantoches naquele momento. Mas agora sim: as imagens e a polêmica facilmente aumentariam o ibope, e portanto, os cifrões.

O crescimento do número de fieis das igrejas evangélicas e o de seu poderio econômico no Brasil - de 15,4% para 22,2% da população brasileira na última década - foi tão expressivo que há dois anos chamou a atenção da Revista Forbes.

Especializada em negócios, a publicação dá o mapa da mina e os nomes dos seis pastores evangélicos mais ricos do país. 

A “ indústria da fé , com contas que ultrapassam as centenas de milhões, é garantida com a doação feita pelos evangélicos de parte de sua renda à igreja. Algumas delas feitas, pasmem, por sugestão de alguns pastores, via débito automático em conta corrente. Não pretendo aqui, de forma alguma, atacar esta ou aquela religião. Como cristão, respeito todas e acredito que cada cidadão tem o direito de optar pela sua e o dever de respeitar a do outro. 

O que questiono é a atuação de certos líderes que agem segundo dois pesos e duas medidas.

O que se faz necessário é reconhecer a importância da nossa atuação organizada quando as crenças de uma determinada religião invadem o campo dos direitos individuais garantidos constitucionalmente.

Por outro lado acredito que a liderança do movimento LGBT deve lançar a semente da reflexão em sua comunidade sobre que símbolos, imagens e textos utilizar em suas manifestações para que os resultados não sejam o oposto do esperado.

E aqui faço minha, opinião do cardeal de São Paulo, Odilo Scherer, a respeito da questão: quem luta por reconhecimento e respeito deve aprender a respeitar. Ofensas, mesmo as não intencionais, dirigidas a grupos cristãos, pode criar condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra o movimento LGBT.

É imprescindível que este movimento não se deixe impregnar e nem alimente o ódio.

Devemos agir no sentido de que a onda de ódio e de intolerância contra o PT, contra a presidenta Dilma e os princípios democráticos, que tomou conta do país desde a campanha presidencial de 2014 e perdura até hoje, perca seu ritmo e desapareça.

Isso é o que esperamos deva sempre ocorrer a todo movimento que não resulte em frutos ou benefícios para a história da humanidade.

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