A CPI também foi palanque para a extrema direita

"Tem fundamento a preocupação dos que se perguntam sobre os efeitos do palanque da CPI do Genocídio nos planos de fortalecimento político da extrema direita", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Otávio Fakhoury
Otávio Fakhoury (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)


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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Tem fundamento a preocupação dos que se perguntam sobre os efeitos do palanque da CPI do Genocídio nos planos de fortalecimento político da extrema direita. O depoimento desta quinta-feira foi exemplar.

Poucos usaram tão bem a chance de aparecer como extremista assertivo quanto o empresário Otávio Oscar Fakhoury. Ele não se intimidou, como se avisasse à galera que o assistia: olha eu aqui na arena do Omar Aziz e do Renan Calheiros.

A pergunta que ronda a CPI foi amplificada pela performance do sujeito acusado de financiar fake news: o que a investigação ganha ouvindo um indivíduo do terceiro time do bolsonarismo?

O homem repetiu o que o véio da Havan havia feito na véspera. Posicionou-se como um cara de ação política. O véio também chegou anunciando que agora faz militância explícita.

Fakhoury disse em determinado momento que sonha em estar um dia ali naquele cenário. A fala assumiu um tom poético e contemplativo, enquanto ele olhava ao redor. Ah, eu aqui um dia.

Mas, ao mesmo tempo, era também uma ameaça: não pensem que, depois do que já fiz e faço e do que vou apresentar aqui, não posso vir a ser colega de vocês. ”Eu ainda não sou político”, disse o interrogado. Ainda não.

O véio de Havan quer ser alguma coisa, quem sabe senador, e Otávio Fakhoury talvez também queira. A CPI não conseguiu controlar o espetáculo desses dois, até porque os limites estabelecidos não funcionaram.

Fakhoury foi alertado várias vezes de que estava cometendo crimes, ao atacar as vacinas e defender as teses mais cruéis do negacionismo. Mas insistia e repetia tudo o que pensa, em nome da liberdade de opinião.

Referiu-se à própria família como um rebanho e assegurou que, no experimento de contágio coletivo, ninguém em casa foi vacinado e ninguém morreu ou foi internado por causa da Covid.

Fakhoury e o véio da Havan são fenômenos do bolsonarismo à espera de um teste efetivo de popularidade. A eleição pode testá-los. Os dois têm muito dinheiro e milhares de seguidores nas redes sociais.

Receberam agora o diploma de interrogados pela CPI, o que não é pouca coisa. O véio da Havan e o amigo de Eduardo Bolsonaro expuseram-se como guerreiros orgulhosos da missão que cumpriram na comissão.

Os outros interrogados têm, na maioria, outra índole e outros planos. Queriam apenas ganhar dinheiro com a cloroquina e as vacinas, e não marcar posição como militantes.

Se pudessem, os outros, os empreendedores, estariam quietos, apenas fazendo negócios, sem vínculos com ideologias e projetos políticos. Não é o caso do véio e de Fakhoury.

Esses dois capitalizaram os duelos na CPI para firmar posição, mesmo que com diferenças relevantes. Todos os jornais mostraram que o véio mentiu muito ao não assumir o que fez e o que pensa. Fakhoury não negou nunca o que defende.

Ambos se fortaleceram como heróis da extrema direita e se habilitam a seguir em frente até 2022. Duas figuras sem apreço pela democracia fazem uso da democracia para tentar corroê-la por dentro.

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