A cota vira farofa na festa da sinhá Gkay

Gkay só quer lucrar em cima da causa racial preta, divulgando a sua festa como um evento diverso e inclusivo

Gessica Kayane, a Gkay
Gessica Kayane, a Gkay (Foto: Reprodução)


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O título desse artigo não se refere ao enredo de nenhuma escola de samba, mas bem que poderia ser aproveitado por alguma agremiação no próximo carnaval, para mostrar na avenida as diversas formas através das quais a pauta racial costuma ser banalizada e ridicularizada pela branquitude. E ainda contando com o apoio de alguns pretos. Se você não está entendendo nada, deixa eu tentar explicar para você.

A influenciadora digital Gkay, conhecida por comemorar o seu aniversário com festas similares as que Calígula organizava quando imperava sobre Roma, postou em suas redes sociais que irá instituir uma cota para convidados negros em sua tradicional “orgy party”, e, até 2026, destinará 50% dos convites para os seus mais novos best friends afrodescendentes. A julgar pelo cardápio que costuma ser servido nesse “big comité” anual, Kid Bengala já tem o seu lugar reservado na política de inclusão adotada pela celebridade.

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A problemática da questão que já não era de resolução prática, ganha contornos ainda mais difíceis de serem equacionados, quando descobrimos que o pretencioso “projeto’’ conta com a consultoria de um homem negro e ativista. Quero lembrar aqui que a citada influenciadora andou por vias de ser cancelada na internet, ao resgatarem postagens antigas em seu perfil no twitter, onde ela praticava racismo e fazia apologia ao nazismo sem o menor pudor. Em uma postagem ela escreveu: “Você pode esperar qualquer coisa de alguém que coloca ‘Negro Drama – Racionais’ como toque do celular e ainda sai por aí se exibindo! ” 

Em outro post, a influenciadora criticou o mesmo sistema de cotas que pretende adotar em sua festa, dizendo que se tratava de “mais uma mordomia pra esses brasileiros que tanto gostam da vida boa e preguiçosa, esse tal de sistema de cotas. Uma palhaçada, isso sim! Cota pra mim é: inclusão pra quem não estuda e exclusão para os que estudam. ” Gkay também manifestou sua simpatia a Hitler, ao escrever: “Gente que me trata como se eu fosse uma pessoa paciente: cadê os campos de concentrações nazistas quando eu mais preciso deles? ” E ela nunca se desculpou por essas postagens. Pior do que isso, só sendo um dos pretos convidados para a sua festa. Eu, hein!

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Obviamente, o que Gkay pretende, assim como aquelas personalidades brancas que emprestavam os seus perfis nas redes sociais para ativistas pretos, escolhidos a dedo, falarem sobre racismo, é lucrar em cima da causa racial preta, divulgando a sua festa como um evento diverso e inclusivo e associando-a a um espaço de poder onde pretos e pretas, tradicionalmente excluídos de um high society que anda cada vez mais down, também pudessem ter o direito de acessar. É como se o complexo de princesa Isabel baixasse em Carlota Joaquina. E para deixar os “marcianos” cada vez mais espantados com a loucura vigente na terra, podemos deduzir que a porcentagem da cota estipulada como meta, está diretamente ligada ao surgimento ou à ascensão de outras celebridades do mundo digital ou de personalidades pretas capazes de serem consideradas ao nível do evento.

Ou alguém acha que madame Gkay vai abrir as portas do seu cabaré chic para um preto que não se “esforçou” para se fazer merecedor do convite? Isso explica o “até 2026” para se atingir a meta. Porque pretos, pretas e pretes não faltam para ocupar as vagas já na próxima edição do seu regabofe natalício. E o que eu acho de pretos e pretas que avaliam como positiva essa ideia de sinhá Gkay? Nada. Poderia chamá-los de movimento negro festivo ou de negritude cirandeira, mas não vou semear mais discórdia dentro de um ativismo essencial e histórico, que apenas tem pecado por dar voz a algumas representatividades cujos objetivos podem ser mais pessoais do que coletivos, ou estarem mais preocupadas em garantir os direitos de uma coletividade preta seletiva, a qual eles já fazem parte.

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Se a desastrosa idéia tinha por intenção limpar a barra da influencer, em função das suas declarações racistas do passado, e colocá-la bem na fita com a negritude, a farofa foi parar no ventilador.  Uma melancia na cabeça teria sido mais eficiente e convincente. 

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