A corrupção é ruim, mas a ditadura é pior

"Por mais defeitos que tenham nossos políticos não existe democracia sem eles. Regime sem políticos chama-se ditadura, cuja expressão mais notória foi o Estado Novo de Getúlio Vargas, que criou a ditadura sem partidos nem políticos. A corrupção é uma merda, mas a ditadura é pior. Mesmo porque, na ditadura, a corrupção continua, mas fica escondida", escreve o colunista Alex Solnik; "Diminuir a corrupção num país é um processo que leva décadas, leva gerações e exige a elaboração de um programa complexo, que começa na educação das crianças e passa por várias instâncias; um tratamento de choque, como esse proposto pela Lava Jato tende a radicalizar o processo político e jogar a população contra a classe política, sem informá-la que sem políticos é o caos"

Brasília - O Movimento Vem Pra Rua realiza manifestações em todo o país. O ato é em apoio à Operação Lava Jato e contra a corrupção e a forma de se fazer política no Brasil (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Brasília - O Movimento Vem Pra Rua realiza manifestações em todo o país. O ato é em apoio à Operação Lava Jato e contra a corrupção e a forma de se fazer política no Brasil (Marcello Casal Jr/Agência Brasil) (Foto: Alex Solnik)


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A lista do material escolar. A lista do supermercado. A lista telefônica. A lista de Furnas. A lista das promessas de início de ano. A lista dos presentes de fim de ano.

A lista de Janot é mais uma que se incorporou à lista das listas brasileiras.

Embora ele já tenha demonstrado ser um especialista em listas e em criar clima de suspense, suas listas costumam ser anunciadas com muito estardalhaço, mas de prático não ocorre nada.

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Dão sempre a sensação de que a montanha pariu um rato. Os processos dos listados nunca chegam ao final, deixando os brasileiros sem saber se eles são culpados ou inocentes. Desconfia-se que muitos ou até a maioria o sejam. Mas, da desconfiança à sentença final leva-se anos-luz.

Então para que serve a lista de Janot?

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Uma das coisas estranhas dessas delações da Odebrecht ou ao menos dos trechos vazados para a imprensa é que dá a impressão que a empreiteira distribuía dinheiro a rodo, mais de 3 bilhões, segundo as últimas estatísticas, e não recebia nada em troca.

O que se lê nos jornais e se vê na TV é que tal político recebeu tantos milhões, em tais e tais circunstâncias, de tal e de tal forma. Mas nunca nos informam o que a empreiteira recebeu em troca. Distribuiu 3 bilhões e lucrou quanto com esse investimento? No que?

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Não dá para acreditar que, numa estrutura tão organizada como a da Odebrecht não houvesse uma planilha referente às contrapartidas, do tipo: demos tantos milhões para Fulano e ele nos vai retribuir com contrato de tantos bilhões em tal situação. Essa informação é fundamental para a população poder separar o joio do trigo, caso haja trigo nesse joio.

No início da Lava Jato, com as delações dos ex-diretores da Petrobrás, Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, dava para entender o que acontecia: eles distribuíam porcentagens de contratos bilionários a representantes de partidos que os apoiavam nos cargos, principalmente PMDB e PP. (O diretor que supostamente seria o canal com o PT continua preso, mas ainda não virou delator.)

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Agora, no terceiro ano da operação, a confusão é total. Não se sabe mais quem fez o que, quando, onde, como e por que. A classe política é desmoralizada (ou desmorolizada) por inteiro.

É uma onda que cresce e se retroalimenta mas que deixa margem a algumas preocupações em relação às eleições de 2018: algum candidato sobreviverá à guerra contra os políticos? Poderá haver eleição sem candidatos?

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Para a imprensa está sendo ótimo. Todo dia tem uma bomba, uma denúncia, uma mordomia do Sergio Cabral, a negação de habeas corpus ao Eike Batista, mais uma pressão sobre Lula. Isso vende jornal.

A questão é: aonde vai nos levar mais essa onda moralista (ou morolista, como diz minha mulher), uma de tantas que já foram promovidas neste país usando como fachada uma suposta moralização?

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Por mais defeitos que tenham nossos políticos não existe democracia sem eles. Regime sem políticos chama-se ditadura, cuja expressão mais notória foi o Estado Novo de Getúlio Vargas, que criou a ditadura sem partidos nem políticos. A corrupção é uma merda, mas a ditadura é pior. Mesmo porque, na ditadura, a corrupção continua, mas fica escondida.

Diminuir a corrupção num país é um processo que leva décadas, leva gerações e exige a elaboração de um programa complexo, que começa na educação das crianças e passa por várias instâncias; um tratamento de choque, como esse proposto pela Lava Jato tende a radicalizar o processo político e jogar a população contra a classe política, sem informá-la que sem políticos é o caos.

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A maneira civilizada de quebrar o círculo vicioso da corrupção não é colocar “todos os corruptos na cadeia”, não é promover a malhação de Judas, não é prender e arrebentar e sim promover um amplo programa de educação nacional, efetivo, contínuo, determinado, envolvendo instâncias nacional estadual e municipal, empresas privadas, todos os meios de comunicação a fim de que as pessoas, num futuro breve, em cargos públicos, eletivos ou não, não deixem de “roubar” o estado por medo de prisão e sim por estarem convictas de que assim prejudicam toda a sociedade, inclusive a eles próprios.

Na ditadura de 64, alguns políticos foram cassados corretamente, como o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, por corrupção, mas a esmagadora maioria foi cassada por motivos políticos, com o intuito de eliminar a esquerda da politica.

A Lava Jato repete a mesma experiência, que já sabemos onde e como acaba.

A corrupção é ruim, mas a ditadura é pior.

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