A coragem de Flávio Dino
O humor de Dino, o sarcasmo bem dosado, sua rapidez de raciocínio e a capacidade de confrontar o fascismo com as suas ignorâncias e ódios, tudo isso é bravura
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O ministro Flávio Dino disse não temer os fascistas. Talvez tenha um pouco de medo, o que é natural, mas o que ele quis dizer mesmo é que a bravura não pode ser mais fraca do que o temor num ambiente de ativismo permanente de uma extrema direita ameaçadora e violenta.
Dino não precisa ser traduzido, mas o que ele transmitiu é que, mesmo sabendo dos riscos que corre, prefere reafirmar que enfrenta o fascismo com destemor.
Vamos reler o que o ministro da Justiça escreveu em rede social, porque merece ser emoldurado nas paredes de gente que andou ou ainda anda com muito medo:
“Eu não tenho medo. Minha perna não treme, minha voz não treme, minha mão não treme quando estou enfrentando um fascista. Podem botar um fascista, 10, 20, 30. Eu tenho esse espírito de missão. Nós precisamos conter o nazifascismo no Brasil. E aí você pode inclusive ridicularizar o nazifascismo”.
O humor de Dino, o sarcasmo bem dosado, sua rapidez de raciocínio e a capacidade de confrontar o fascismo com as suas ignorâncias e ódios, tudo isso é bravura.
Bravura que faltou a muita gente desde antes do golpe contra Dilma Rousseff, desde muito antes da prisão de Lula e da ascensão de Bolsonaro e seus milicianos e militares.
Faltou coragem a tanta gente, ministro Flávio Dino. Gente da sua área, do sistema de Justiça.
Gente que o ministro, que é juiz federal, sabe bem como se comportou em quatro anos de bolsonarismo no poder.
Tivemos um déficit de autoridade, das instituições e de homens públicos corajosos, ministro Flávio Dino.
Gente que não enfrentou nem ao menos um fascista, um só, e que nunca enfrentaria 10 ou 20, como o senhor enfrenta.
Gente que se acovardou diante do avanço do entorno de Bolsonaro, da sua base civil empresarial ameaçadora e até agora não bem avaliada.
Uma base com dinheiro, que perseguiu, ameaçou adversários e se aliou aos militares para apostar num Brasil entregue ao fascismo, não por mais um mandato, mas por décadas e talvez para sempre.
Faltou coragem a essa gente assustada com os endinheirados que tentaram amordaçar jornalistas, impuseram a fala do bolsonarismo com muita grana, financiaram gabinetes de ódios e violências e cortejaram o líder não-vacinado por onde andasse.
Flávio Dino sabe que a coragem foi uma virtude ausente em muitas áreas, principalmente nas que, por dever e prerrogativa, têm a missão de enfrentar delinquentes políticos.
O espírito de missão, ministro Flávio Dino, foi cumprido de forma burocrática por muitos colegas com estrela no peito e que deveriam ter afrontado a bandidagem que se apropriou do Estado.
Faltou coragem, ministro, porque muitos dos que se acham corajosos se acocoraram para os militares e deram passagem a manezinhos, manezões e terroristas.
Mas são novos tempos. Que a sua coragem contagie os que se encolheram e estão tentando reagir nesse cenário de resgate da democracia criado com a ajuda dos que não se acovardaram.
Sem coragem, com a perna tremendo, não há missão que prospere em tempos de exceção e de ameaças.
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