A Copa e a nova Guerra Fria

"Como se viu, na cabeça de Temer, a Rússia ainda é a 'União Soviética'. Mas não é só na cabeça dele. Após quase três décadas da queda do regime comunista e a da fragmentação da União Soviética, a Rússia ainda é vista, por alguns setores políticos do Ocidente, como um país 'perigoso', em vez de um aliado em importante em lutas conjuntas, como a luta contra o terrorismo, por exemplo. Na realidade, para alguns a Guerra Fria não acabou", escreve o colunista Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais; ele ressalta também como seria devastador um eventual boicote à Copa do Mundo de 2018, que será realizada na Rússia; "Um boicote, ainda que parcial, ao campeonato mundial de futebol, o esporte mais popular do mundo, seria um completo desastre"

"Como se viu, na cabeça de Temer, a Rússia ainda é a 'União Soviética'. Mas não é só na cabeça dele. Após quase três décadas da queda do regime comunista e a da fragmentação da União Soviética, a Rússia ainda é vista, por alguns setores políticos do Ocidente, como um país 'perigoso', em vez de um aliado em importante em lutas conjuntas, como a luta contra o terrorismo, por exemplo. Na realidade, para alguns a Guerra Fria não acabou", escreve o colunista Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais; ele ressalta também como seria devastador um eventual boicote à Copa do Mundo de 2018, que será realizada na Rússia; "Um boicote, ainda que parcial, ao campeonato mundial de futebol, o esporte mais popular do mundo, seria um completo desastre"
"Como se viu, na cabeça de Temer, a Rússia ainda é a 'União Soviética'. Mas não é só na cabeça dele. Após quase três décadas da queda do regime comunista e a da fragmentação da União Soviética, a Rússia ainda é vista, por alguns setores políticos do Ocidente, como um país 'perigoso', em vez de um aliado em importante em lutas conjuntas, como a luta contra o terrorismo, por exemplo. Na realidade, para alguns a Guerra Fria não acabou", escreve o colunista Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais; ele ressalta também como seria devastador um eventual boicote à Copa do Mundo de 2018, que será realizada na Rússia; "Um boicote, ainda que parcial, ao campeonato mundial de futebol, o esporte mais popular do mundo, seria um completo desastre" (Foto: Marcelo Zero)


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Como se viu, na cabeça de Temer, a Rússia ainda é a "União Soviética". Mas não é só na cabeça dele. Após quase três décadas da queda do regime comunista e a da fragmentação da União Soviética, a Rússia ainda é vista, por alguns setores políticos do Ocidente, como um país "perigoso", em vez de um aliado em importante em lutas conjuntas, como a luta contra o terrorismo, por exemplo.

Na realidade, para alguns a Guerra Fria não acabou.

A bem da verdade, a política externa norte-americana nunca abandonou completamente essa perspectiva belicosa e confrontacionista com a Rússia. Os motivos não têm nada mais a ver com a antiga luta ideológica. Eles obedecem a uma disputa geoestratégica formulada explicitamente Zbigniew Brzezinski, scholar extremamente influente, que foi assessor presidencial para assuntos de segurança nacional no período de 1977 a 1981.

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Ele argumenta, com razão, que a Eurásia é o eixo geoestratégico do mundo, já que esse supercontinente, além concentrar boa parte do território e dos recursos naturais do planeta, conecta os dois grandes polos econômicos do mundo além dos EUA, a União Europeia e o Leste da Ásia. Para Brzezinski, é vital que os EUA tenham o controle desse supercontinente, caso queiram permanecer como a única e inconteste superpotência.

Pois bem, a geoestratégia concebida por Brzezinski implicava várias ações de longo prazo concomitantes. Em primeiro lugar, o fortalecimento da Europa unida, sob a liderança dos EUA. Para tanto, Brzezinski já sugeria, inclusive, a celebração de um tratado de livre comércio transatlântico, como o anunciado recentemente. Em segundo, o fortalecimento das novas nações independentes da Ásia Central e do Leste Europeu, que surgiram após o colapso da União Soviética, e a consequente expansão da OTAN até a Ucrânia. Em terceiro lugar, e mais importante, a geoestratégia de Brzezinski previa o enfraquecimento da Rússia e o enquadramento de sua política externa nos imperativos geopolíticos dos EUA e seus aliados.

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Putin, entretanto, inviabilizou essa estratégia de enfraquecimento e dependência da Rússia.

Sob sua gestão, a Rússia passou a desenvolver uma geoestratégia própria. É a da constituição de uma "União Euroasiática", voltada para a criação de um bloco econômico envolvendo Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão, bem como à integração com a China e outras potências econômicas do leste asiático. Assim, a Rússia de Putin, ao invés de se voltar para o Ocidente, com a integração subalterna à Europa prevista por Brzezinski, voltou-se para a Ásia Central e o Oriente, procurando contrarrestar a crescente influência dos EUA/UE no leste europeu.

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Ademais, recentemente Putin passou a influir mais no Oriente Médio, interferindo na desastrosa política ocidental de apoiar grupos terroristas, inclusive o Estado Islâmico, como estratégia para derrubar o regime de Assad na Síria.

Em sua associação ao BRICS, a Rússia de Putin aposta num mundo mais multipolar e multilateral, o que é conveniente aos interesses do Brasil e de outros países emergentes, mas inconveniente às pretensões do EUA de moldarem o mundo aos seus interesses unilaterais.

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Trump, o imprevisível, até que ensaiou ter uma relação mais pragmática com Putin, mas foi logo desautorizado pelo Departamento de Estado.

Por tudo isso, vêm surgindo recentemente pressões, até mesmo no Congresso norte-americano, para que a Copa de 2018 na Rússia seja boicotada. Os motivos alegados variam: a crise da Ucrânia, a anexação da Crimeia após um plebiscito, a suposta ação de "hackers" russos nas eleições dos EUA, a ação russa na Síria, a punição a 35 atletas olímpicos russos por "doping", etc.

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O cardápio das desculpas é bem variado, mas o fato é um só: voltamos definitivamente à Guerra Fria.

Em 1980, em plena Guerra Fria, EUA e aliados, alegando que a Rússia havia "invadido" o Afeganistão, decidiram boicotar as olimpíadas de Moscou. De fato, boicotaram as olimpíadas, fato nunca antes acontecido, e financiaram Bin Laden e outros grupos extremistas islâmicos, denominados por eles como "os combatentes da liberdade", que atuavam contra o regime secularista e progressista Afeganistão.

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Com isso, conseguiram duas proezas: plantaram as sementes do extremismo islâmico e prejudicaram irremediavelmente várias gerações de atletas, pois, em 1984, em retaliação, houve o boicote da União Soviética e aliados às Olimpíadas de Los Angeles. Anos de treinamento, trabalho e esforços foram jogados no lixo.

A paz e o esporte foram, assim, os grandes derrotados.

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Portanto, um boicote, ainda que parcial, ao campeonato mundial de futebol, o esporte mais popular do mundo, seria um completo desastre.

Para o Brasil, em particular, um boicote desse tipo seria extremamente prejudicial. A seleção canarinho está recuperando seu antigo brilho e tem tudo para recuperar seu prestígio internacional em Moscou, após o fiasco dos 7x1 no Brasil.

Contudo, se houver algum boicote, o campeão não vai conseguir voltar, como canta e quer a nossa torcida.

Já bastam Temer e sua política externa errática e subserviente para destruir o prestígio do Brasil. Fazendo o jogo da grande superpotência do planeta, a política externa do golpe investe contra a integração regional, a articulação Sul-Sul e o BRICS. Investe, assim, em dependência e desprestígio. Isso é mais do que o suficiente. Não precisamos de novos desastres.

Fora boicote!

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