A contraofensiva ucraniana parece ter falhado

Durante meses, só se falou dela. A mítica contraofensiva ucraniana, montada e planejada pela Otan

(Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters)


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Marcelo Zero

Durante meses, só se falou dela. A mítica contraofensiva ucraniana, montada e planejada pela Otan, e com vasto material cedido essa organização, se encarregaria de fazer retroceder as tropas russas, ao longo de toda a frente de batalha. 

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O Donbass, de maioria russa, seria reconquistado, assim como a região sul da Ucrânia, o que levaria a uma possível reconquista até mesmo da península da Crimeia, outra região de vasta maioria de russos étnicos. 

A derrota, humilhante, obrigaria a Rússia e negociar a paz, nos termos demandados pelos EUA e pelo governo Zelenski. Isto é, uma rendição incondicional, com prisão massiva de autoridades russas, inclusive de Putin, e pagamentos de compensações bilionárias à Ucrânia, praticamente um novo Tratado de Versalhes. 

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Contudo, passado um mês de sua deflagração, o que se ouve é um mutismo intrigante. 

Ao contrário das prometidas vitórias decisivas, que seriam anunciadas com pompa, circunstância e numerosos decibéis pela mídia ocidental, há um silêncio sepulcral, em torno da contraofensiva. 

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Não há ganhos territoriais a serem anunciados e batalhas decisivas ganhas.   

A Ucrânia está empregando nessa ofensiva 12 brigadas fortemente equipadas, dos quais 9 foram armadas até os dentes com material da Otan (tanques Leopard, blindados Bradley, tanques AMX-10, Howitzers, mísseis HMARS, blindados Challenger-2, bem como uma pletora de material bélico soviético proveniente de países do Leste europeu).  

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Ao todo, seriam cerca de 60.000 homens descansados e bem equipados.

Mas, até agora, nada.

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Embora a Ucrânia e a Otan não falem nada sobre o que aconteceu ou que está acontecendo, alegando, inclusive, segredo militar, alguns analistas assinalam que as primeiras levas da ofensiva ucraniana foram dizimadas pelos campos minados e a pesada artilharia russa.

Deve-se levar em consideração que a Rússia não tem apenas grande superioridade em artilharia, mas também em suporte aéreo, o que torna muito difíceis avanços em terrenos abertos intensamente fortificados e minados. 

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Assim, pequenos avanços no campo de batalha só poderiam obtidos às custas de pesados sacrifícios de vidas e equipamentos. 

O depoimento de um grupo de soldados ucranianos, ouvidos pelo The Washington Post, revela as grandes dificuldades enfrentadas pela contraofensiva. 

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Vinte minutos após o avanço de 5 de junho ao sul de Velyka Novosilka, na região sudeste de Donetsk, morteiros explodiram ao redor deles, disseram os soldados. Um soldado de 30 anos conhecido como “Lenhador” viu dois dos homens em seu veículo sangrando muito; um perdeu um braço enquanto clamava por sua família. “Lenhador” rastejou para dentro de uma cratera, mas o estilhaço de um morteiro atravessou o solo e perfurou seu ombro. “Fomos deixados lá no campo, sem tanques nem armaduras pesadas”, disse esse soldado, que falou ao The Washington Post com a condição de ser identificado apenas por seu apelido, porque não estava autorizado a discutir a batalha. “Fomos bombardeados com morteiros de três lados. Não podíamos fazer nada. ”

Nesse diapasão, a contraofensiva, mesmo que conseguisse algum avanço territorial, perderia ímpeto rapidamente, o que tornaria muito improvável a consecução de seus objetivos estratégicos.

Em sentido contrário, a perda expressiva de vidas e equipamentos ucranianos poderia propiciar um contra-ataque russo, colocando em risco o domínio do centro do território da Ucrânia.

O provável fracasso da contraofensiva russa poderia, numa análise racional, ter consequências na estratégia dos EUA e da Otan.

O governo Biden e alguns governos da Europa distribuíram centenas de bilhões de dólares em ajuda financeira e armamentista ao governo Zelenski, no pressuposto de que tal ajuda contribuiria para que as forças da Ucrânia tivessem êxito militar e, com isso, pudessem obrigar a Rússia a negociar a paz em condições mais favoráveis aos interesses dos EUA e da Ucrânia.

Parece claro que isso não vai acontecer. Por outro lado, cresce, especialmente na Europa, um cansaço em relação à guerra, que sacrifica e a economia europeia e, também, toda a economia mundial. 

Além disso, a Otan e os EUA estão esvaziando seus arsenais de munições e ficando sem alternativas para fortalecer suas novas fronteiras, como a da Finlândia, por exemplo.

Em outras palavras, a estratégia dos EUA e da Otan, de armar a Ucrânia e desgastar a Rússia com sanções e uma guerra de longo prazo, não está funcionando. A vasta ajuda militar não está se traduzindo em ganhos efetivos e significativos no campo de batalha.

Ante tal cenário, restariam três alternativas:

  1. Intensificar bastante a ajuda militar, arriscando uma escalada bélica de consequências muito perigosas e imprevisíveis. 
  2. Negociar um cessar-fogo que pusesse fim à matança, que impedisse o prolongamento e a intensificação do conflito, que pavimentasse ulteriores negociações de paz, e que, por consequência, eliminasse os atuais constrangimentos econômicos criados pela guerra. 
  3. Persistir na estratégia atual até a morte do último soldado ucraniano.

Num mundo racional e multilateral, optar-se-ia, sem dúvida, pela segunda opção.

Entretanto, como vivemos num mundo parcialmente guiado pela irracionalidade da nova Guerra Fria e pelo unilateralismo agressivo e bélico, é provável que os EUA, ainda obcecados em punir e enfraquecer a Rússia, optem pela primeira ou terceira alternativas. 

Tanto Biden como Zelenski provavelmente optarão por não admitir o fracasso da opção militar e persistirão em ofensivas e contraofensivas inúteis, que matam milhares de ucranianos. 

Nesse contexto, as ações de Lula, do Papa Francisco, da China, dos países africanos, etc. em prol da paz adquirem dimensões de urgência e emergência. 

As armas atômicas, de um e outro lado, estão a postos.

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