A conexão com os pobres é a chave para a eleição no Brasil

Temos pouco mais de 2 anos para encontrar um novo discurso que possibilite essa reconexão com as camadas mais pobres da população e preparar as políticas públicas que diminuam o estrago do pior governo que esse país já teve



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Sendo o Brasil a democracia liberal com a mais estúpida concentração de renda do planeta é uma derivativa lógica que haja aqui muito mais pobres do que ricos. Portanto, por ser uma democracia com muitos pobres só ganham as eleições quem consegue conectar-se com esses pobres.

Durante a ditadura militar (1964 a 1985) e no período da redemocratização e reforma do Estado (1985 a 2000) o valor do salário mínimo, um dos indicadores de concentração de renda, foi corroído pela inflação e sem uma política pública de correção esse valor desceu aos mesmos níveis de poder de compra dos anos 1950 e do início dos anos 1960.

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Inflação, baixos salários e concentração de renda eram os três grandes problemas que teriam potencial para estabelecer a conexão necessária com as classes mais baixas que garantissem vitórias eleitorais. 

Os dois primeiros foram enfrentados com relativo sucesso nos ciclos de poder de PSDB e PT. Já a questão da concentração de renda é um problema que ninguém ousou enfrentar verdadeiramente, muito embora ele esteja na raiz de muitos outros, incluindo inflação e baixos salários.

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No período pós redemocratização quem primeiramente estabeleceu essa conexão foi o PSDB que se dedicou ao combate à inflação. A eleição de FHC em 1994 na esteira do Plano Real se dá porque o controle da inflação e a valorização da moeda era uma pauta que falava diretamente com os mais pobres na medida em que deixavam de ter a pouca renda que recebiam, sobretudo na forma de um salário mínimo defasado, corroída antes mesmo que pudessem gastá-la.

Ao conseguir o controle da inflação, FHC se conecta diretamente com a parcela da população que decide as eleições. Superada essa agenda pessoal de FHC a conexão se desfez porque FHC só entende a pobreza academicamente e o PSDB nem isso. 

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O PSDB não se conecta com os pobres, não entende suas necessidades e sua linguagem e é por isso que perde eleições nacionais seguidamente, mas cria uma dinastia no Tucanistão que é o estado de São Paulo. Aqui ninguém se acha pobre, nem os pobres

O próximo ciclo de conexão foi o do PT que também elege uma pauta prioritária que conversa com os mais pobres: o combate à desigualdade, expresso de maneira simplista em baixos salários. 

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A primeira hipótese explicativa para essa conexão é que as políticas públicas implementadas durante o ciclo petista refletem uma combinação de políticas sociais e econômicas, com crescimento da renda e da escolaridade, associados a estratégias regionais de desenvolvimento. 

Essa combinação se torna exitosa porque conversa de maneira imediata com os que não possuíam trabalho ou renda sustentáveis  ao transferir renda e valorizar salários, abre a perspectiva de que esse ciclo seja de longa duração porque está associado às estratégias regionais de desenvolvimento que representam novos e melhores empregos e estabelece compromissos com o futuro dessas pessoas ao fortalecer políticas de acesso educacional capaz de quebrar o ciclo vicioso da pobreza, através de políticas públicas transgeracionais.

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No ciclo petista de poder a redução da pobreza e das desigualdades passou a ser tratado como uma Política de Estado e não de Governo. 

Como resultado dessa mudança de visão boa parte das políticas públicas com esses objetivos foram constitucionalizadas por meio de Emendas Constitucionais para que fosse garantida sua perenidade mesmo com a chegada ao Governo de outras forças políticas.

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Emendas Constitucionais deram a segurança jurídica e política para a adoção de diferentes iniciativas de políticas de transferência de renda, de política de valorização do salário mínimo e de expansão dos recursos destinados à Educação.

Os efeitos dessas Emendas na economia retroalimentaram inciativas e incentivos ao aumento do emprego formal, ao aumento do investimento público em infraestrutura, ao crédito imobiliário e ao incentivo para aumento da produção e do consumo no mercado interno.

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O paradoxo é que durante seu ciclo o PT se conecta com as classes mais pobres da população proporcionando e garantindo que aumentem sua renda presente e futura e isso rompe essa conexão. Não porque o partido não entenda suas necessidades e sua linguagem, mas porque a classe mais desfavorecida depois de 14 anos já não se enxerga mais como tal e, satisfeitas as necessidades materiais, faltou atender às necessidades simbólicas associadas aos valores da Classe Média. 

Com a inflação controlada e a renda média da população crescendo, apenas como exemplo, o salário mínimo em janeiro de 2012 chegou ao pico de US$ 350,00, mais que o triplo do valor médio do período militar e do período da redemocratização e reforma do Estado, surge a necessidade das novas forças que disputariam o poder político pelo voto depois de golpe de 2016 estabelecerem uma nova conexão com as camadas mais pobres da população que não passassem pelos pautas identificadas com o PT ou com o PSDB.

A opção da “Nova Direita” que elege Bolsonaro é se conectar com essas camadas pelos discursos lastreados por valores morais e pelo combate a inimigos imaginários como a ameaça do comunismo, a ideologia de gênero e a doutrinação educacional e religiosa.

Esse discurso tem forte aderência em uma população que está minimamente atendida em suas necessidades básicas, que não precisa se preocupar com a desvalorização da moeda ou em conseguir fazer 3 refeições por dia.

Insuflado por um elaborado discurso anticorrupção bombardeado diuturnamente pela mídia, a parcela da população que decide as eleições embarca em um discurso vazio e de difícil comprovação de sua realização. 

Queiramos ou não, gostemos ou não, esse discurso por razões bastante complexas que vão desde questões interna como aspectos religiosos das grandes cidades até movimentos de uma guerra híbrida no cenário internacional envolvendo a geopolítica das novas relações multipolarizadas, se conecta com essa população mais pobre e elege o mais improvável de todos os candidatos possíveis ou imagináveis.

O grande dilema de Bolsonaro dado o absurdo da sua eleição e o desafio de conduzir o país para uma retomada econômica pós pandemia e manter essa conexão com o eleitorado baseado exclusivamente em questões ideológicas e em valores morais.

Com o desemprego em alta, a renda da população despencando e o risco real de não haver mais 3 refeições por dia para boa parte da população, será necessário estabelecer políticas públicas de verdade para não ser descartado em 2022.

Se por um lado ele precisa entregar políticas públicas que redistribuam renda e aumente o nível de emprego e de alguma forma aqueça a economia, por outro, ele se recusa, ou não possui a capacidade de usar o poder do Estado para isso. 

Nestes 4 anos, sim eu já não vejo o impeachment como uma possibilidade concreta nesse momento, o ultra liberalismo de Paulo Guedes que veio a reboque da eleição de Bolsonaro fará um enorme estrago na economia, concentrará ainda mais a renda no país e provocará um alinhamento automático com os interesses americanos que de maneira alguma ajudarão em uma campanha de reeleição.

Temos, portanto, pouco mais de 2 anos para encontrar um novo discurso que possibilite essa reconexão com as camadas mais pobres da população e preparar as políticas públicas que diminuam o estrago do pior Governo que esse país já teve.

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