A Colômbia de Gaitán renasce com Petro

'A Colômbia vai se somar aos processos de integração regional, aos países que afirmam políticas externas independentes em relação aos EUA', diz Emir Sader

Gustavo Petro e Francia Márquez
Gustavo Petro e Francia Márquez (Foto: REUTERS/Santiago Arcos)


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A Colômbia tinha ficado tristemente identificada com a violência, desde o assassinato do seu – até então – maior líder popular – Jorge Eliezer Gaitán -, em 1948, que provocou grandes reações populares, conhecidas como o Bogotaço.

Seguiu-se o período denominado de ‘A Violência’ (1946-1958), com uma verdadeira guerra civil entre os partidos Conservador e Liberal, dividindo o país praticamente entre famílias ligadas aos dois partidos. Um período que não terminou naquele momento, prolongando-se até hoje.

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Mesmo os Acordos de Paz entre o governo e as guerrilhas – das Farc, ELN e M-19 – não conseguem ser devidamente implementados, com o assassinato de grande quantidade de líderes camponeses. As forças paramilitares não se desarmaram e seguem atuando contra o movimento popular.

Nas eleições presidenciais deste ano, o uribismo, a continuação dos governos oligárquicos e violentos da direita colombiana, já havia sido derrotado, com seu candidato não conseguindo chegar ao segundo turno. O seu lugar foi ocupado por um prefeito de uma pequena cidade, que tratou de se apresentar como alternativo à polarização entre direita e esquerda, mas que canalizou os votos da direita, agrupados contra a candidatura de Petro.

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O segundo turno foi invadido por todo tipo de fake news, incluído um suposto resultado eleitoral adiantado, com dados de todas as províncias do país e que davam uma vantagem apertada para o candidato da direita.

Mas Gustavo Petro – a quem eu conheci quando ainda pertencia ao M-19 – superou tudo isso e conseguiu se eleger como o primeiro presidente democrático da Colômbia, comprometido com o estabelecimento da paz e com a superação do neoliberalismo. Sua vitória é mais significativa ainda, por ter como vice-presidenta uma grande líder popular negra, premiada pelo mais importante prêmio de meio ambiente.

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Se complementa, com essa vitória, a derrota da direita colombiana, comprometida com os para-militares, com o neoliberalismo, com a adesão incondicional às politicas dos Estados Unidos. 

A primeira tarefa de Petro será' a de, definitivamente, impor a paz no país, terminando com a ação dos grupos paramilitares e trazendo para a Colômbia um período de paz e convivência democrática que o país nunca teve, praticamente, desde o final dos anos 1940 do século passado – isto é, por mais de oito décadas.

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Mas essa é apenas uma condição inicial de sucesso político. Como ele mesmo prometeu, a Colômbia precisa de reformas estruturais, que modernizem e democratizem o país, promovendo os direitos da grande massa da população com leis e políticas sociais. Sua política econômica, como ele afirmou, será a da superação das políticas neoliberais, que só acentuaram as desigualdades características do país.

No plano internacional, a Colômbia de Petro vai se somar aos processos de integração regional, integrando-se ao bloco majoritário de países que afirmam políticas externas soberanas e independentes em relação aos Estados Unidos. Certamente vai diversificar as relações internacionais, intensificando os intercâmbios no continente, assim como com a Ásia, a África e a Europa.

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A nova Colômbia será mais um país democrático, fortalecendo o bloco de países que conta já com a Argentina, o México, a Bolívia, o Chile, Honduras, o Peru, a Venezuela, a Nicarágua, Cuba, à espera da mãe de todas as eleições latino-americanas, em outubro, no Brasil.

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