A coleira do juiz
É preciso esmiuçar a alma do magistrado para saber quais são, de facto, as razões de seu fetichismo por objetos alheios
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Primeiro foi a cólera. O Juiz Ostentação ameaçava esmiuçar a alma do ex-bilionário e, escroque, Eike Batista.
O diabo é que juiz não é médium e, não o sendo, imiscuir-se por almas alheias é um poder que não lhe foi facultado.
Juiz pode até ser deus, porque os deuses são muitos e variados, na Grécia havia um que até comia os filhos, tamanha a voracidade do demiurgo.
Mas me parece que esse lance da alma era uma tentativa reversa de travestir-se de bilionário. O juiz buscava de fato uma transmigração de alma.
Excelência parecia invejar o contraventor e desejar os objetos abjetos de sua contravenção.
Porque não se trata tão somente de guardar e proteger e fiduciar o veículo de meio milhão de reais, mas de estar por aí a desfilar dentro da máquina.
O carro do poderoso Thor está na garagem do vizinho do Juiz Ostentação, o piano decora a sala de outro vizinho.
Não se sabe nos punhos de quem estão os relógios de pulso levados à pulso das mansões e mansardas de ex-posa, filhos e quetais.
Tomaram, magistrado e vizinhos, o whisky do sujeito, ao som do piano e do ronco do Porsche? Usaram o perfume do ex-bílio?
E não menos importante, a pergunta que quer falar: Será que o Juiz Ostentação - oh tentação! - enquanto pilotava, fagueiro, a máquina de meio milhão de lascas, usava garbosamente uma jactante gravata Eikiana ou enforcava-se, tudo é possível, com uma carnavalesca gargantilha apreendida na casa de Luma?
É preciso esmiuçar a alma do magistrado para saber quais são, de facto, as razões de seu fetichismo por objetos alheios.
Palavra da salvação.
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