A cobertura da Copa e o jornalismo vidente
Enquanto a mídia internacional busca inovar na cobertura da Copa, lançando diversos olhares sobre o maior evento entre nações, a nossa dá de ombros e se contenta com o mais do mesmo
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Enquanto a mídia internacional busca inovar na cobertura da Copa, lançando diversos olhares sobre o maior evento entre nações, a nossa dá de ombros e se contenta com o mais do mesmo.
Pela TV brasileira, a Copa do Mundo parece um Brasileirão Vip.
Quantos cantos inexplorados têm esse país? Por interessantes e diferentes ângulos a câmera poderia estar direcionada, mas nossa imprensa não arrisca. A cobertura brasileira é careta, enfadonha, preguiçosa. Talvez tenha se pautado na redenção do caos e desordem, mas quando se deu conta, o script havia mudado, e ela teve que correr atrás. O sucesso atropelou todas as previsões. Até agora tem sido a melhor Copa.
E é essa mania de prever que passou a ser a principal engrenagem das redações. O que ainda está por acontecer é revelado de forma tão convincente que sequer cogitamos sua improbabilidade. Os erros de previsão vão se sucedendo sem o menor constrangimento. Mas a realidade aparece.
Todos que para cá vieram agradecem a grande receptividade e se espantam em ver um país diferente daquele que lhes fora noticiado. A tragédia intensamente anunciada revelou-se farsesca e muito covarde em seu intuito político-eleitoral. O Brasil é visto em todo mundo sob olhares de admiração. Por que, antes, a insistente autoimolação do país pela grande imprensa?
Quem paga a conta pelo muito que deixamos de faturar a mais? Não adianta vir agora admitir o grande saldo positivo da Copa. O mínimo seria um mea-culpa de nossa mídia e dos famosos que se dispuseram a ecoar toda viralatisse propagandeada. A massificação da vergonha, imposta e absorvida como sinal de maturidade política, perdeu seu forjado encanto.
O repórter estrangeiro instalado na favela faz longos registros de nossas espontaneidade e alegria. O colorido e diversidade de nosso país são explorados à exaustão e levados a todos os cantos do planeta, com muito conteúdo e produção. Aqui, tudo isso é resumido ao máximo e exibido numa rápida pincelada, enquanto perdem-se intermináveis minutos para sabermos como os brasileiros torcem nos Estados Unidos.
Temos também o coroamento dos pitacos, a brincadeira dos bolões levada ao ar como matéria jornalística. Mais uma vez as previsões dominando o noticiário. É o jornalismo vidente. E por esse caminho, o editorial agourento da Folha adverte que apesar do enorme sucesso da Copa, "convém, como o próprio futebol ensina, esperar o apito final para cantar vitória".
Mesmo com todas as anteriores previsões desmascaradas, não custa nada deixar as barbas de molho e ficar bem alerta. Essa turma já mostrou que é capaz de tudo.
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