A cloroquina não tem culpa, o monstro é Bolsonaro

Se a cloroquina não pode ser entendida como o medicamento perfeito ou preferencial para o tratamento do coronavírus, ela também não pode ser vista como uma droga monstruosa. Monstruoso é quem não pensa na vida dos outros quando vai recomendá-la



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Os especialistas médicos do mundo inteiro (reitero, os especialistas, não os bolsonaros) dizem que a cloroquina é um medicamento que pode servir para alguns pacientes afetados pelo coronavírus. Além disso, a cloroquina também já se provou útil para o combate de outras enfermidades, como a malária, por exemplo.

Porém, os efeitos colaterais da cloroquina podem ser mortais e, por isso, só um especialista poderia determinar quando, e em quem, a droga deveria ser administrada. No caso de pessoas com problemas de hipertensão ou cardíacos, dizem os especialistas,  o risco de que a cloroquina cause a morte é muito elevado. Este é apenas um dos casos em que os riscos são muito mais evidentes do que as perspectivas de cura. Há inúmeros outros.

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Quem pode saber se a cloroquina é ou não o medicamento certo para tal ou qual paciente? Só o médico que esteja cuidando do mesmo e que disponha de informações sobre suas condições de saúde.

E por que, mesmo sem entender nada de medicina, Bolsonaro insiste em que a cloroquina seja oferecida como um medicamento aberto de consumo geral? A resposta que poderia vir a nossa mente em primeiro lugar é: Bolsonaro é uma pessoa cruel, sem nenhuma empatia com a vida e os sofrimentos de outros seres humanos.  Mas, pensando bem, além desta, deve haver outras motivações bem mais relevantes.

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Também poderíamos pensar que Bolsonaro tem interesses econômicos ligados aos de fabricantes de cloroquina e, deste modo, vai ganhar dinheiro com o aumento do consumo da droga. É uma hipótese bem fundamentada, visto que seu amiguinho Donald Trump está ligado a empresas farmacêuticas que produzem cloroquina. E, como dizem que Bolsonaro e Trump compartilham o mesmo coração, por que descartar esta alternativa?

Já outros talvez achem mais provável que a motivação de Bolsonaro não esteja totalmente vinculada a interesses pecuniários pessoais. Poderia mesmo ser tão somente uma visão impulsionada pelo desejo de pôr fim a uma quarentena que não é aceita por Bolsonaro e nem por grupos econômicos que o apoiam, em razão da significativa queda no nível de atividades que ela acarreta e a consequente diminuição de lucros a auferir. Ou seja, ao difundir a crença de que o coronavírus pode ser facilmente eliminado no caso de que haja a contaminação, a quarentena passaria a ser entendida como um custo desnecessário para o enfrentamento da pandemia, uma vez que a cloroquina estaria aí para rapidamente solucionar o problema.

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Seja qual for a hipótese escolhida, a cloroquina não tem a culpa. Ela pode ser de muita utilidade em certos casos, e mortal em outros. Mas, se a cloroquina não pode ser entendida como o medicamento perfeito ou preferencial para o tratamento do coronavírus, ela também não pode ser vista como uma droga monstruosa. Monstruoso é quem não pensa na vida dos outros quando vai recomendá-la.

Em outras palavras, monstruoso é Bolsonaro, não a cloroquina

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