A censura bate à porta

Quando um presidente da República, mesmo que interino, como Michel Temer, ordena a Secom do governo federal e as suas agências a cancelarem contratos de publicidades com sites e blogues de opinião, o que ele está fazendo é censura. Afinal, opinião é o exercício da própria liberdade de imprensa

Bras�lia(DF), 27/04/2016 - Michel Temer e A�cio Neves visitam Renan Calheiros - Foto: Michael Melo/Metr�poles
Bras�lia(DF), 27/04/2016 - Michel Temer e A�cio Neves visitam Renan Calheiros - Foto: Michael Melo/Metr�poles (Foto: Renato Rovai)


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Um golpe não é, ele vai sendo. Tenho batido nesta tecla há algum tempo porque num certo ponto do processo político, diferentes grupos se alinharam para derrubar a presidenta eleita Dilma Rousseff.

E aos poucos foram construindo as condições políticas para derrubá-la, sem que houvesse motivos legais para isso. Ou seja, esse golpe foi ganhando formas no processo.

E não foi em 2013 que isso aconteceu, como insistem alguns. Pode-se até concordar que algumas tecnologias de mobilização foram criadas lá. Isso é um fato. Mas o golpe começou a ganhar forma no primeiro semestre de 2014, quando a Lava Jato já estava mostrando boa parte dos seus dentes e as ruas passaram a pedir o impeachment.

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Muito disso tudo não aconteceu apenas pela dadivosa generosidade do espírito santo e nem tão somente pela capacidade organizativa dos golpistas. Mas também por muitos erros do governo Dilma.

Dito isto, o golpe hoje já tem asas e começa a fazer um voo onde nem todos que embarcaram nessa viagem vão sobreviver.

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E para que um golpe consiga se concretizar ele precisa ter o controle da informação. Ele precisa criar formas de controlar aqueles que informam.

E este golpe que não é, mas vem sendo, já começa a dar seus primeiros sinais nesta área.

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Após publicarem uma reportagem sobre supersalários de juízes e promotores do Paraná, jornalistas do Gazeta do Povo foram processados por mais de 30 deles em diferentes cidades do estado.

Em um dos processos, eles já foram condenados a pagar 20 mil reais. Ou seja, se todos resultarem na mesma quantia, os supersalários do judiciário vão levar quase 1 milhão de reais do Gazeta do Povo.

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A justificativa do juiz que os condenou na primeira instância é a de que teriam sido “descuidados” ao publicar a reportagem. Não que eles publicaram informação falsa.

Ao mesmo tempo, também do Paraná vem o processo contra o jornalista e blogueiro Marcelo Auler.

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Ele foi proibido pela Justiça (vejam bem, pela Justiça) de fazer matérias que citem os delegados Igor de Paula, Erika Mialik Marena e Mauricio Moscardi Grillo, da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Paraná.

Ou seja, Auler está sofrendo censura prévia. E quando tiver alguma denúncia contra os delegados terá de publicar receitas de bolo, já que não pode citá-los.

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Mas a censura nunca foi e não se dará dessa vez tão somente por processos judiciais.

Quando um presidente da República, mesmo que interino, como Michel Temer, ordena, é assim que o ANTAgonista disse que ele fez, a Secom do governo federal e as suas agências a cancelarem contratos de publicidades com sites e blogues de opinião, o que ele está fazendo é censura.

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Afinal, opinião é o exercício da própria liberdade de imprensa. E todos os veículos de comunicação exercem esse sagrado direto de opinar.

E a censura fica ainda mais clara quando se percebe que a ordem de Temer não se aplica à Revista Veja, mas sim à Revista Fórum. E nem ao jornal O Estado de S. Paulo, mas sim ao GGN.

Ou seja, não terá publicidade do governo quem não tiver a opinião do presidente interino.

Essa é a modalidade mais coronelista de censura e já funciona em praticamente todas as cidades e estados brasileiros. Ou o veículo se curva ao governo ou não recebe o mesadão do governante.

Não se deve, por este motivo, tratar essa prática de forma menos corrosiva e agressiva à liberdade de imprensa.

Ao ordenar que se suprima o direito de um veículo que reúne condições de buscar publicidade governamental simplesmente porque ele tem opinião, Temer dá a letra do cale-se para boa parte da mídia nativa.

Com as raríssimas exceções de sempre, os veículos médios e pequenos que não lhe disserem amém não serão programados pelas agências do governo.

Essa censura escandalosa está sendo comemorada por parte mídia tradicional. Tolinhos. Os veículos independentes vão continuar tocando a vida mesmo sendo judicializados, condenados e sufocados economicamente. Eles não vão se curvar a Temer. E nem fechar as portas. Porque se um sair do ar, serão abertos dois ou três com as mesmas mensagens e objetivos no dia seguinte.

Mas essa regra não vale para a mídia tradicional, com exceção talvez da Globo, da Folha-UOL e de mais um ou dois grandes grupos. No caso deles, o fim será triste. De joelhos, eles vão dizer muito mais do que amém.

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