A Casa Grande euro-estadunidense
“O nazismo é uma cadela no cio”
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A pandemia da Covid-19 contribuiu para uma maior compreensão sobre a exploração capitalista global, quando se escancarou mais abertamente a precarização da vida de milhões de pessoas no mundo, sem condições de habitação digna, privadas de abastecimento de água, sem acesso a saneamento básico, sem garantia de emprego e renda mínima permanente, sem poder gozar de um sistema de saúde público universal e gratuito (no Brasil, pouco antes da chegada da pandemia, o ex-ministro bolsonarista da saúde, Luiz Henrique Mandetta, do partido político União Brasil-MS, estava trabalhando para o desmantelamento do SUS). Ao passo que a cada 26 horas da pandemia, um capitalista entrava para o ranking de novos bilionários. Segundo a Oxfam, em seu documento “Desigualdade Mata”, os dez capitalistas mais ricos dobraram sua acumulação durante a crise sanitária global no mesmo tempo em que a renda de 99% pessoas caiu e mais de 160 milhões de indivíduos foram empurrados para a pobreza, enquanto cerca de 17 milhões de humanos morreram pelo coronavírus.
Neste sentido, também alguma oportunidade de esclarecimento à opinião pública sobre a geopolítica mundial está sendo possível com a crise gerada pela operação militar deflagrada pelo Kremlin contra a continuação da ameaça dos EUA (Otan) por querer instalar bases militares no território da Ucrânia. O orçamento anual do poder militar de destruição dos EUA é da ordem de 12 (doze) vezes maior do que o da Rússia. E desde o desmonte da URSS, em 1991, havia um acordo entre as potências envolvidas firmando a não ampliação territorial-militar estadunidense em direção ao leste europeu. O acordo foi descumprido. As 16 nações que compunham a organização militar naquele momento hoje se transformaram em 30 (trinta), entre as quais Polônia, Estônia, Eslováquia, Hungria, Lituânia, Letônia, Romênia, República Tcheca, Croácia, Bulgária, Albânia.
Em 2007, a cidade Munique, na Alemanha, acolheu a 43ª Conferência Europeia de Política de Segurança. Em um discurso histórico o presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou para o risco da politica externa estadunidense “de criar um mundo unipolar, no qual há um só Rebanho e um só Pastor, um só Mestre e um só Soberano”. A esse domínio monopolizador das relações globais implicaria um incontido uso da força nas relações internacionais. Como resultado dessa dominação estadunidense, “nenhuma nação se sentiria segura e tal política iria estimular uma corrida às armas”.
De fato, sete anos antes, em 30 de maio de 2000, o Pentágono estadunidense lançou um documento intitulado “Joint Vision 2020 (Visão Conjunta 2020)” o qual visa explicitamente à dominação do espectro total; ou seja, a prioridade principal dos EUA é obterem domínio total nas esferas das Forças Armadas convencionais, das armas nucleares, da retórica dos direitos humanos, da geopolítica, da questão energética, do espaço e dos meios de comunicação. Isso abrange praticamente tudo que pode se tornar uma ameaça no campo de batalha ou na consciência dos atores sociais e políticos. Trata-se de um estado de batalha permanente para manter a liderança mundial conquistada no pós-guerra de 1945, que começa a ser ameaçada com a emergência da China e da Rússia como novas potências mundiais.
Para colocar em prática tais objetivos, os EUA investiram taticamente em esforços no rompimento da unidade cultural entre Ucrânia e Rússia, aplicando a fórmula expressa pelo cientista político italiano Nicolau Maquiavel, nos anos 1500: dividir para imperar. Em suas táticas de guerra híbrida, os EUA jogaram com os sentimentos nacionalistas ucranianos, semeando discórdias e polarizações entre seus cidadãos, com o objetivo de dividir a nação para depois colocar as partes umas contra as outras, ao ponto de derrubar, em 2014, o governo eleito e colocar em seu lugar uma coalização de caráter neonazista a qual estabeleceu, desde então, uma forte opressão contra os ucranianos pró-Rússia.
Atente-se que, já muito antes, em 1928 foi publicada uma obra que mudou o conceito e as estratégias de guerra: “Propaganda”, de Edward Bernays, reconhecido como o líder nos estudos sobre formação da opinião pública. Bernays demonstrou que um pequeno número de pessoas – em grande parte invisível – orienta a forma de pensar das massas numa maneira de manter as aparências de ordem em uma sociedade. Numa passagem do seu livro afirma: “O estudo sistemático da psicologia de massas revelou aos pesquisadores as potencialidades do controle invisível da sociedade por manipulação de motivos que mobilizam os humanos em grupo que são movidos por impulsos e emoções que não podem ser explicados com base no conhecimento apenas da psicologia individual. Palavras, imagens e sons realizam pouco a não ser que sejam munições de um plano minunciosamente arquitetado e de métodos cuidadosamente organizados para que as ideias transmitidas tornem-se parte integrante da vida das populações. Quando o público é convencido da racionalidade de uma ideia, ele entra em ação. Ação esta que é sugerida pela própria ideia religiosa, política ou social. Mas esses resultados não acontecem do nada: eles são obtidos pela fabricação de consensos”. Este é um dos eixos da guerra híbrida permanente estadunidense. A Rússia sabe disto e precisa definir logo a operação militar de neutralizar o ingresso da Ucrânia na Otan, caso contrário poderá sair bastante prejudicada.
Mas outro aspecto começa a chamar atenção nesta batalha de construções de consensos nos corações e mentes da opinião pública mundial. É a cobertura racista realizada pelos meios de comunicação ocidentais, para desqualificar e desumanizar os indivíduos e grupos que “não são cristãos, não têm pele branca, nem olhos azuis”. Três breves registros podem servir de referência. Em entrevista a Rede BBC, de Londres, o ex-procurador geral adjunto da Ucrânia, David Sakvarelidze, se disse “comovido por ver pessoas europeias, com cabelos loiros e olhos azuis sendo mortas”. Uma jornalista da Rede de Televisão NBC, estadunidense, ao explicar a decisão da Polônia em aceitar refugiados ucranianos, afirmou: “Estes não são refugiados da Síria, estes são refugiados da Ucrânia, são cristãos, são brancos, são iguais a nós”. Por fim, o jornalista Charlie D’Agata, do canal estadunidense CBS News, disse sobre a Ucrânia: “Este não é um lugar como o Iraque ou Afeganistão, que tem visto conflitos violentos há décadas. Este é um país relativamente civilizado, relativamente europeu”. Como se vê, a ideologia nazista avança subliminarmente a todo vapor pelas lentes da mídia ocidental.
Brecht já havia dito que “o nazismo é uma cadela que está sempre no cio”. E alguns autores o complementam: “os capitalistas são os primeiros a quererem transar com ela”. Enquanto condena a Rússia, os EUA bombardearam com drones a República Federal da Somália, no leste africano, na terça-feira, dia 22, dois dias antes de a operação militar russa iniciar. A Anistia Internacional informou que há vários civis entre as vítimas. Entre 2019 e 2020 os EUA realizaram 116 ataques aéreos naquele país. Mas as redes de televisão ocidental não cobriram, não denunciaram nem condenaram os ataques militares estadunidenses a mais uma nação africana.
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