A burrice "estratégica" de Bolsonaro

A pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira, 02 de setembro, joga uma pá de cal sobre a tese que confere alguma vida inteligente ao bolsonarismo. Trata-se da perda de terreno de Bolsonaro em segmentos tidos até então por ele como redutos inabaláveis

(Foto: Marcos Corrêa - PR)


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Li e ouvi de gente respeitável análises sobre a postura do capitão à frente do governo federal ao longo destes oito meses que parecem oito anos, alertando que uma suposta estratégia estava por trás de suas declarações idiotas, preconceituosas e mentirosas.

“Enquanto Bolsonaro distrai a oposição e a sociedade com suas opiniões medievais, grosseiras e escatológicas, o projeto ultraneoliberal liderado pelo ministro Paulo Guedes, com base na entrega das riquezas do país e no corte dos direitos do povo, vai de vento em popa.”

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“Bolsonaro acena para os seus o tempo todo, em vez de governar. Com isso, mantém sua matilha de cães hidrófobos mobilizada. Com essa estratégia, garante o controle pelo menos 30% do eleitorado.”

“A oposição erra quando  teima em travar com Bolsonaro um embate no campo ideológico, voltado para os costumes e o comportamento, em detrimento da luta contra o desemprego, o aumento da pobreza e da miséria e a falta de políticas indutoras de crescimento econômico.”

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“O presidente faz política sem parar, pautando a imprensa e a agenda do país com falas que contrariam a história, desafiam a ciência, menosprezam a cultura e desprezam a educação. Tudo isso visando sua reeleição.”

“O que está acontecendo no Brasil é sério demais para que percamos tempo ironizando, debochando e fazendo piada sobre Bolsonaro, seus filhos e a ala manicomial de seu governo.”

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Em geral, têm sido essas as linhas de argumentação dos que teimam em enxergar pensamento estratégico e alguma racionalidade onde só existe burrice. A pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira, 02 de setembro, joga uma pá de cal sobre a tese que confere alguma vida inteligente ao bolsonarismo.

Como já foram sobejamente noticiados os dados da pesquisa que revelam um aumento significativo da reprovação a Bolsonaro, a visão crítica dos brasileiros à sua falta de postura presidencial, a condenação generalizada da política ambiental e diplomática do governo, a rejeição ao nepotismo explícito do presidente, a contrariedade crescente com o abandono da educação, da saúde e com o desemprego, prefiro focar em outro ponto que reputo de extraordinária importância.

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Trata-se da perda de terreno de Bolsonaro em segmentos tidos até então por ele como redutos inabaláveis. É o caso do recuo do apoio entre os mais ricos e escolarizados. Ou seja, começa a fazer água o núcleo duro do bolsonarismo, revelando que nada há de cerebral em sua decisão de governar apenas para seu nicho.

Se Bolsonaro não consegue manter sob ordem unida nem seus adeptos mais radicais e fieis - alvos exclusivos de sua atuação política -, então sua descida ladeira abaixo parece irreversível.   

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Outra coisa: sem prejuízo, é claro, de enfrentar as atrocidades que o governo fascista comete nas esferas política, econômica e social, penso que a oposição não deve abrir mão em hipótese alguma da refrega ideológica, moral e de costumes. Até porque, longe de serem excludentes, são frentes complementares de luta.

Atacar as concepções trevosas do clã Bolsonaro sobre a vida, além de uma obrigação civilizatória, é um gesto político de caráter pedagógico.  E tanto melhor se puder ser temperado com humor, sabidamente um poderoso instrumento político. Não custa lembrar dos estragos causados pelo jornal Pasquim à ditadura militar.

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