A boiada, a cachorrada, as hemorroidas e os vagabundos, um ano depois

Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia, afirma que o vídeo da reunião de 22 de abril do ano passado "nos ofereceu subsídios para abreviar o sofrimento do país e devolver Bolsonaro ao mundo dos milicianos". "Estava ali o caráter de um governo que funcionava como uma gangue"

(Foto: CUT/DF | MARCOS CORRÊA/PR)


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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Completa um ano amanhã a famosa reunião ministerial da boiada de Ricardo Salles, das hemorroidas de Bolsonaro, do Programa Pró-Brasil de Braga Netto e da última troca de olhares entre Sergio Moro e seu chefe.

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Há reuniões definidoras de governos e projetos de poder. A ditadura mostrou a cara e apostou na longevidade naquela reunião de 13 de dezembro de 1968, quando o AI-5 foi considerado pronto e parido.

A reunião reveladora do que era o governo Bolsonaro aconteceu naquele dia 22 de abril. Todos tinham suspeitas das liturgias grotescas do sujeito nos encontros ministeriais. Mas poucos podem ter imaginado tanta bizarrice.

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Os militares de 1968 revelaram lá naquele dia 13, na formatação da repressão, que tinham métodos, que eram formais até no improviso, esquemáticos e com noção de futuro.

Bolsonaro revelou-se, no dia 22 de abril, como um sujeito sem método algum, preocupado apenas com a blindagem dele e dos filhos. Havia excesso de presente e ausência de futuro na reunião ministerial do dia 22 de abril.

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Aquele foi um encontro raro. Teve muitas cenas chocantes e essa foi uma delas: pela primeira vez na República um civil (Paulo Guedes) chamou um general e ministro (Braga Netto) de despreparado.

Aquela foi uma reunião de arromba. Ficamos sabendo que Weintraub era autorizado a chamar os ministros do Supremo de vagabundos, que os generais pensavam ter ali um plano desenvolvimentista para o país, que Sergio Moro era um estorvo, que Salles agia com autorização como destruidor (esse sim com método) da Amazônia, que Hamilton Mourão não abria a boca e que Bolsonaro só queria proteger os filhos com a ajuda de Augusto Heleno, porque o ex-juiz escalado para a tarefa era um imprestável.

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Depois daquela reunião, Bolsonaro ofereceu cloroquina a uma ema, Sara Winter ameaçou comandar a invasão do Supremo, Celso de Mello passou um pito em Heleno, o genocídio virou a principal política de governo, Moro caiu, Abraham Weintraub arrumou emprego em Washington, Bolsonaro não conseguiu criar um partido, a famiglia ficou sem Trump, prenderam Queiroz, Bolsonaro demitiu todo o alto comando das Forças Armadas como quem troca o guardinha do Alvorada, Braga Netto teve uma queda de pressão e saiu da Casa Civil e foi para a Defesa, Kajuru grampeou Bolsonaro e Ricardo Salles continuou passando a boiada e a cachorrada.

Só o que mudou mesmo, desde aquela reunião, é que os ‘bandidos’ do Supremo decidiram enfrentar Bolsonaro, a extrema direita e o lavajatismo e que foi criada a CPI do Genocídio.

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O resto é igual, com o acréscimo de detalhes, como o aluguel do Centrão por Bolsonaro e pelos militares e a compra da casa de R$ 6 milhões por Flavio Bolsonaro.

Daquela reunião, sobraram poucas coisas. O Programa Pró-Brasil de Braga Netto foi evaporado ainda no computador, a Polícia Federal abriu um inquérito para saber se Bolsonaro manipula a Polícia Federal e Moro foi demitido e arrumou emprego na consultoria que tenta salvar empresas que ele quebrou na Lava-Jato. E Bolsonaro nunca mais fez reuniões ministeriais como aquela.

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Aquela reunião ministerial avisou que, se quisesse, o Brasil acabaria com Bolsonaro em poucos meses. Se a pandemia se agravasse, se a economia fosse destruída, se não houvesse emprego, se o botijão de gás dobrasse de preço, se o povo passasse fome e se faltasse oxigênio nos hospitais, claro que ficaria mais fácil. Ficaria?

O vídeo daquela reunião de 22 de abril nos ofereceu subsídios para abreviar o sofrimento do país e devolver Bolsonaro ao mundo dos milicianos. Estava ali o caráter de um governo que funcionava como uma gangue.

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Naquela reunião, Bolsonaro aprimorou-se como aberração política e humana e denunciou a seu modo o temor de ser derrubado. “O que os caras querem é a nossa hemorroida”, disse o sujeito.

Bolsonaro está aí, altivo, os filhos continuam soltos, Queiroz está impune e os militares estão conformados.

Até agora, Bolsonaro preservou as hemorroidas, livrou-se dos subalternos vacilantes civis e fardados e até retornou com vigor ao cercado do Alvorada.

As confusões e os conflitos seriam geridos, mesmo sem qualquer método, se os problemas fossem apenas esses. Bolsonaro sabe se virar.

Mas, um ano depois daquela reunião, Lula está de volta, e agora Bolsonaro o compara a Jesus. Esse talvez seja o único grande problema de Bolsonaro.

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