A batalha dos dois mundos: Síria e Brasil

"O nível de desinformação da imprensa brasileira sobre o que acontece na Síria e no Oriente Médio é simplesmente espantoso. Beira o patético", critica o sociólogo e colunista do 247 Marcelo Zero; "De um modo geral, a imprensa da oligárquica brasileira apenas reproduz acriticamente as 'informações' que são produzidas pelos governos ocidentais e veiculadas pelas agências de notícias internacionais. Essas "informações" compõem um conjunto de meias verdades e mentiras que não permite uma análise objetiva e aprofundada do que realmente acontece e porque acontece", diz Zero 

"O nível de desinformação da imprensa brasileira sobre o que acontece na Síria e no Oriente Médio é simplesmente espantoso. Beira o patético", critica o sociólogo e colunista do 247 Marcelo Zero; "De um modo geral, a imprensa da oligárquica brasileira apenas reproduz acriticamente as 'informações' que são produzidas pelos governos ocidentais e veiculadas pelas agências de notícias internacionais. Essas "informações" compõem um conjunto de meias verdades e mentiras que não permite uma análise objetiva e aprofundada do que realmente acontece e porque acontece", diz Zero 
"O nível de desinformação da imprensa brasileira sobre o que acontece na Síria e no Oriente Médio é simplesmente espantoso. Beira o patético", critica o sociólogo e colunista do 247 Marcelo Zero; "De um modo geral, a imprensa da oligárquica brasileira apenas reproduz acriticamente as 'informações' que são produzidas pelos governos ocidentais e veiculadas pelas agências de notícias internacionais. Essas "informações" compõem um conjunto de meias verdades e mentiras que não permite uma análise objetiva e aprofundada do que realmente acontece e porque acontece", diz Zero  (Foto: Marcelo Zero)


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O nível de desinformação da imprensa brasileira sobre o que acontece na Síria e no Oriente Médio é simplesmente espantoso. Beira o patético. De um modo geral, a imprensa da oligárquica brasileira apenas reproduz acriticamente as "informações" que são produzidas pelos governos ocidentais e veiculadas pelas agências de notícias internacionais.

Essas "informações" compõem um conjunto de meias verdades e mentiras que não permite uma análise objetiva e aprofundada do que realmente acontece e porque acontece.

O suposto ataque químico à cidade de Douma e a resposta dos EUA, com a Grã-Bretanha e a França a tiracolo, é um exemplo típico.

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Em primeiro lugar, nunca houve quaisquer evidências fidedignas de que houve de fato ataque químico em Douma, subúrbio de Damasco controlado por extremistas islâmicos, o local já vinha sendo bombardeado por armas convencionais do exército sírio com bastante eficácia.Tanto é assim que a imprensa ocidental, aliada dos USA, vinha denunciando os bombardeios.O exército sírio estava, com o apoio da Rússia, ganhando essa batalha ( mais uma). A pergunta é porque comprometer uma vitória militar e política com um suposto ataque químico que, de acordo com o Crescente Vermelho e outras fontes independentes, teriam matado apenas 42 pessoas. Do ponto de vista militar não faz o menor sentido. Do ponto de vista político, também.

A OPAQ até hoje não investigou o local para confirmar as hipóteses veiculadas por vídeos de origem duvidosa. Pedido nesse sentido feito pela Suécia no Conselho de Segurança da ONU, mas foi prontamente rejeitado pelos EUA e aliados, o que é muito suspeito.

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Também não se pode descartar a hipótese de que um ataque limitado de armas químicas tenha sido desferido por outros atores políticos envolvidos no conflito, como forma de encurralar diplomaticamente o regime de Assad. Observe-se que maioria dos "rebeldes sírios" é de estrangeiros pagos pela Arábia Saudita, Emirados Árabes, Qatar, EUA etc. O Mossad israelense, que insiste na derrubada de Assad, dada sua aproximação com o Irã, também poderia ter participação no incidente fabricado.

O que a imprensa ocidental e a brasileira não dizem é que os EUA foram duplamente derrotados nesses episódios. A bem da verdade, os EUA pretendiam intervir em Ghouta Oriental e estabelecer uma ponte com os radicais islâmicos entrincheirados em Douma. Eles estavam concentrando forças por eles treinadas em Al-Tanf, na fronteira com o Iraque.

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Fontes em Damasco explicaram que o exército sírio e seus aliados, apoiados pela Rússia, estavam realizando um grande ataque na Idlib rural e tinha chegado ao aeroporto de Abu quando de repente, a operação militar foi interrompida. Todo o grupo de assalto foi transferido para Ghouta Oriental (Douma). O que aconteceu?

É que o governo sírio descobriu que as forças que vinham sendo agrupadas e treinadas na fronteira com o Iraque pretendiam se movimentar até Douma e reunir-se aos radicais islâmicos lá entrincheirados. Com isso, EUA e aliados pretendiam romper o cerco em Douma e deslocar os grupos islâmicos de mercenários estrangeiros até Damasco, numa tentativa de tirar Assad do poder (ou enfraquecê-lo muito) e fazer a Rússia retroceder até o norte da Síria.

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Entretanto, a antecipação do governo Sírio cercando Douma e fortalecendo suas posições em Ghouta Oriental e ao redor de Damasco colocou por terra a manobra americana. É nesse contexto que surge, inesperadamente, o "ataque químico", que justificou a intervenção aberta dos EUA, ao arrepio do Conselho de Segurança da ONU e sem uma investigação isenta da OPAQ.

O Plano A da intervenção, concebido pelo maníaco John Bolton, Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, previa a destruição das principais infraestruturas militares e civis do governo de Damasco, inviabilizando-o, na prática. A Rússia, que usa parte dessa infraestrutura alertou que não aceitaria quaisquer ações que comprometessem o seu pessoal, e que reagiria à altura. Coube a James Mattis, Secretário de Defesa dos Estados Unidos, após negociações que foram até às 4 horas da manhã, impor o Plano B, que consistiu num ataque limitado a alvos específicos.

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No discurso de EUA e aliados, mencionou-se que foram apenas três alvos, nos quais supostamente o governo sírio estaria desenvolvendo armas químicas, e que teriam sido usados 105 mísseis com explosivos de alto impacto. Isso não faz o menor sentido. Cada míssil desses carrega uma carga explosiva de 450 quilogramas de alto impacto. Os 105 mísseis seriam suficientes para destruir toda Damasco. Um dos alvos, o principal, era o complexo de Barzeh, composto por três pequenos edifícios, e que tinha sido declarado, pela própria OPAQ, como livre de armas químicas.

Para onde então foram a maioria dos mísseis?

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Eles foram dirigidos, na realidade, para 6 aeroportos e aeródromos sírios. O objetivo era claro: impedir que a Rússia e o governo sírio usassem instalações para bombardear os locais onde os terroristas islâmicos estão entrincheirados. Essa era a finalidade desde o início. O "ataque químico" foi apenas uma cortina de fumaça para justificá-lo. Só que o ataque falhou. Essa é outra mentira que a imprensa ocidental está escondendo.

Os russos afirmam que 71 mísseis foram derrubados por sua defesa aérea, afirmação que é parcialmente confirmada pela própria oposição ao governo Al-Assad, a qual firma que 65 mísseis foram derrubados e não atingiram os alvos. Desse modo, os danos aos aeródromos foram limitados, e, muito provavelmente, não impedirão, por muito tempo, novas incursões aéreas contra os redutos dos radicais islâmicos.

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Agora, as forças de Assad deverão se concentrar, de novo, no domínio de Idlib, de modo a unir Damasco a Aleppo. Se conseguirem, os radicais e mercenários apoiados pelo EUA e pelas ditaduras sauditas medievais ficarão em situação desesperadora e isolados.

Por conseguinte, o que ocorre de verdade na Síria sequer chega com um mínimo de fidedignidade à opinião publica brasileira.

Mas o aspecto principal dessa constante contrainformação tange à disputa geoestratégica em jogo na Síria. Esse país, a quem os EUA querem destruir, como fizeram com Iraque e Líbia, é um campo de teste de uma disputa entre dois mundos.

O primeiro mundo é o mundo unilateralista liderado pro EUA e eventuais aliados, que pretendem impor seus interesses num cenário internacional cada vez mais equilibrado e complexo. Por isso, a nova política nuclear e de segurança dos EUA põe toda ênfase na disputa mundial de poder contra Rússia e China como seu principal objetivo, em substituição à antiga obsessão com o terrorismo islâmico. Nesse novo contexto, fica fácil entender porque os EUA, aliado no Oriente Médio às ditaduras medievais da Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes, etc., não se acanham em incentivar e financiar grupos como o Estado Islâmico, desde que eles sejam úteis aos seus objetivos de destruir regimes e países que atrapalhem seus interesses de dominação dos recursos estratégicos.

O segundo mundo, por assim dizer, tange a um cenário mais multilateralista, representado essencialmente pelo BRICS. Rússia e China assinaram contratos de cerca de US$ 400 bilhões, cada um, com o Irã, principalmente na área de energia. A ideia principal é fazer escoar o petróleo iraniano via Síria, aliada do Irã xiita, diretamente pelo Mediterrâneo, rompendo com o oligopólio da península árabe, aliada dos EUA e sunita.

Numa perspectiva maior, a aliança entre Rússia e China pretende manter a Eurásia sob o domínio do BRICS, ter presença maior no Oriente Médio, principalmente via Irã, e enfraquecer o dólar como moeda internacional e as finanças assentadas nessa moeda. A China sonha em ver o seu renminbi como moeda de alcance mundial, diminuindo sua exposição às reservas em dólar. Isso poderá ter consequências substanciais na conformação de um novo sistema financeiro mundial, no longo prazo.

Os EUA estão perdendo essa guerra. Os mísseis "lindos e inteligentes" de Trump fracassaram. Os EUA não se atreveram a atacar a Síria como poderiam. Ficaram com medo da reação russa. Estão encalacrados no país e não sabem como se retirar sem reconhecer que não conseguirão derrubar Al-Assad. As anunciadas sanções econômicas contra a Rússia não terão impacto significativo, já que o fluxo comercial entre esses dois países é muito baixo (cerca de 3,6 % das exportações russas).

A Síria é um dos túmulos do unilateralismo norte-americano. O próximo poderá ser a Coréia.

Há, contudo, um campo geopolítico no qual essa disputa entre esses dois mundos pende para o lado norte-americano: o Brasil. De fato, o Golpe brasileiro está desmontando toda política externa ativa e altiva construída pelos governos do PT e desconstruindo a política de defesa autônoma centrada na integração regional e na geração de tecnologia militar próprio. Estamos nos tornando, a olhos vistos, um satélite frágil e dependente dos interesses americanos na região, cuja principal função é desestabilizar a Venezuela e qualquer outro país que não se enquadre no figurino geopolítico norte-americano. Viramos capitães-do-mato do Império. Para complementar o desastre, estamos promovendo o uso das Forças Armadas na luta contra o narcotráfico e a criminalidade, com a intervenção militar no Rio de Janeiro, desejo antigo da diplomacia dos EUA.

Andrew Weissmann, o verdadeiro pai da Lava Jato, deve estar exultante. O Brasil do Golpe é fácil, fácil. Aceita migalhas e abana o rabo.

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