A Argentina e as eleições no Brasil enfrentam a onda alta do lawfare
No Brasil chegamos a uma eleição sem Lula, o candidato presidencial mais querido e seguro vencedor da maioria do povo brasileiro. Na Argentina, Cristina F. Kirchner é ameaçada de prisão pelo "partido judicial", o do "sem provas, mas com convicções", para tirá-la do páreo das presidenciais de 2019
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No Brasil chegamos a uma eleição sem Lula, o candidato presidencial mais querido e seguro vencedor da maioria do povo brasileiro. Na Argentina, Cristina F. Kirchner é ameaçada de prisão pelo "partido judicial", o do "sem provas, mas com convicções", para tirá-la do páreo das presidenciais de 2019. Dois líderes de uma experiência concreta de realizações sociais, de governos populares e soberanos, integrados na década passada via BRICs e Unasur contra o FMI e a Alca. O entusiasmo do "lawfare" do golpismo latino-americano na vitória das forças reacionárias do STF/STE no Brasil assemelha uma festa de vampiros: Macri afasta Ricardo Lorenzetti, o juiz conservador da Corte Suprema de Justiça e o substitui por Carlos Rosenkrantz, o mesmo que tentou aplicar a chamada lei 2x1 para anistiar os genocidas da ditadura militar.
As eleições no Brasil se dão em meio a um evidente estado de exceção, em que se constata não só a penetração do inimigo nas instituições de governo, mas a insuficiência da mobilização social e das forças de esquerda, que não lograram impedir a prisão de Lula, garantir o habeas corpus e a sua candidatura, não obstante todos os esforços: a pressão do Comitê dos Direitos Civis e Políticos da ONU, a campanha internacional por Lula Livre, e a incansável resistência no acampamento de Curitiba. Estamos pagando muito caro, sem Lula Livre, pelos déficits organizacionais não superados a tempo, de um sindicalismo distante das bases, e de uma falha na política comunicacional nos próprios governos do PT ao deixar intacto o poderio da Globo (reconhecida pelo próprio Lula e reafirmado nos discursos de Haddad), subestimado a mídia comunitária, e não haver assumido a rede de transmissão da Telesul (com exceção do ex-governador e senador do Paraná, Roberto Requião).
Porém, não é hora de chorar pelo leite derramado. Não se exclui nas circunstâncias atuais da barbárie capitalista, que o povo brasileiro desperte, premido pelo tempo, e que exerça o seu poder pelo voto e nas ruas, impulsionando novas lideranças autênticas, tecendo o seu casaco enquanto o veste na intempérie. Evidentemente, é uma batalha histórica e urgente! Eleição sem Lula espelha não só uma fraude política, mas um contexto assaz adverso. Não se trata de uma fraude de fato, na medida em que Lula indicou Haddad seu representante e substituto, com boa chance de vitória. Realista diante da rapidez dos golpes, Lula, mesmo preso, expressa sua consciência de classe de poder driblar esse neoliberalismo nefasto, esgotado, capaz de gerar somente candidatos grosseiros, insensíveis e de baixo calibre político e intelectual, como Bolsonaro e Macri na Argentina. Porém, altamente perigosos porque são os do neoliberalismo ilimitado e destruidor como na Argentina. Tudo indica que Lula, como Cristina Kirchner, tiveram que optar pela tática de estirar ao máximo a corda frente à guerra judicial-midiática, até tornar evidente à classe média o golpismo mentiroso da Globo no Brasil; ou até que surta efeito na Argentina a informação verdadeira contra Macri no C5N, canal de TV perseguido pelo governo. Enquanto não há suficiente organização popular e unidade nas forças políticas da esquerda, Lula, como Cristina ganham tempo denunciando ao mundo que a chamada "Justiça" é anticonstitucional, persegue o PT, o peronismo-kirchnerista, e os maiores governos e dirigentes progressistas da América Latina como Maduro, Evo Moráles, Rafael Correa, Ortega e Manoel Zelaya.
Assuma-se com energia a cartada eleitoral, sem deixar de falar diretamente com o povo, como Lula reiterou nas tarefas de campanha a Haddad/Manuela. Na Argentina, Cristina não conclama a militância a acompanhá-la a depor no Tribunal de Justiça Comodoro Py. Mas diz: vocês se dediquem às suas manifestações sindicais, a reclamar seus direitos, a ocupar as ruas contra os ajustes, o FMI, os "tarifaços". Estimular o dito poder popular independente tem sido uma meta de Cristina Kirchner sem o quê torna-se difícil prever como impedir a sua prisão, caso o Senado, com incógnita reação por parte do peronismo conservador, aprovar a cassação do seu mandato. O kirchnerismo e a esquerda em geral, são conscientes de que a farsa das fotocópias dos "Cadernos", as ameaças de prisão do juiz Bonadio contra Cristina Kirchner, foram criadas para entreter o povo frente ao desastre econômico de Macri e os ajustes do FMI; e antecipadamente, impedir sua candidatura em 2019.
Não obstante a crescente repressão, nada detém a mobilização organizada dos argentinos. Um fato gravíssimo ocorreu: o sequestro e tortura contra uma professora, participante do crescente movimento de "caldeirões de comida popular" para alimentar crianças e famílias pobres; isso aumentou a bronca e a solidariedade à greve dos professores na defesa da escola pública. Trabalhadores dos estaleiros de Rio Santiago, ocuparam a fábrica e o Ministério da Economia, contra as demissões e a privatização. Trabalhadores da CTEP, da economia popular, se mobilizam contra a prisão do seu dirigente Juan Grabois (representante político do Papa Francisco que levou a sua solidariedade a Lula em Curitiba) num ato de solidariedade com trabalhadores ambulantes senegaleses. O movimento dos aposentados (atacado a balas em dezembro com a aprovação da Lei-saqueio da Previdência) está novamente em pé de luta diante do Congresso Nacional, opondo-se à votação do orçamento mutilado pelo FMI. Um fato importante é que acaba de fundar-se a Frente Sindical para o Modelo Nacional, uma nova CGT, entre os sindicatos de caminhoneiros, bancários (Corrente Federal) e setores combativos, que rompem com a direção conciliadora da atual CGT. O dia 25 será marcado por uma nova greve geral promovida por várias centrais sindicais contra todos os ajustes econômicos de Macri. Provavelmente será um ensaio do futuro cenário possível se o "lawfare" cometer o golpe da prisão de Cristina. É imprevisível, mas provavelmente a reação popular será maior que no Brasil no dia nefasto de Lula no Sindicato metalúrgico do ABC
A vitória eleitoral de Haddad/Manuela no Brasil terá um efeito positivo no povo argentino. Há que lembrar que a solidariedade por Lula Livre na Argentina foi gigantesca; portanto, a expectativa é enorme. É preciso que a unidade das esquerdas seja reforçada ainda neste primeiro turno em torno do projeto popular de Lula. Diante da injusta ausência de Lula, o povo brasileiro necessita ver no candidato Haddad seu representante e candidato, que não só veste o chapéu de cangaceiro, mas que é fiel companheiro do projeto de nação e soberania popular de Lula, solapado pelo golpe e, por todos os candidatos conservadores e militares de direita travestidos de civis.
Tudo indica que Haddad cresce na capacidade de combate frente ao ataque midiático crescente dos opositores. É importante agitar que a ausência de Lula é uma ameaça definitiva à democracia, mas sobretudo à soberania econômica e social do povo. O enfoque nas bestialidades do Bolsonaro não é central, pois caem por si só: a maioria do povo brasileiro tem inteligência e dignidade. No dia 29, o movimento das mulheres brasileiras, dará uma contundente lição, um "alto lá!", como as irmãs argentinas do "Nenhuma a menos". A tribuna do Haddad/Manuela deve servir para preparar a nação, abrir consciência de que a retomada do projeto econômico nacional e popular do Lula-Haddad, não termina na eleição e vai necessitar de uma ampla participação popular. Sem isso, não se assegura a libertação de Lula. A fórmula "Câmpora no governo e Perón no poder", sendo um modelo histórico, pode não funcionar diante do contexto atual do ataque concentrado das finanças internacionais, e das características da força popular no Brasil. Perón em 17 de outubro de 1945 foi libertado por multidões na Praça de Maio. Getúlio Vargas sem contar com isso, se suicidou. Perón ao retornar do exílio em junho de 1973 (com Câmpora eleito presidente um mês antes) foi esperado por 3 milhões em Ezeiza e, posteriormente, foi presidente. A desconcentração das manifestações, produto de um país continental como o Brasil também não é um fator desprezível. De toda forma a meta "Haddad no governo, Lula no poder", como acenado pelo jornalista Breno Altman, é justa e necessária. Haddad eleito deve abrir um processo político ou judicial que permita a libertação imediata de Lula.
Estas eleições serão também um momento de prova para a Frente Brasil Popular. A chapa Haddad/Manuela representa além dos nomes, dois partidos de grande peso da esquerda brasileira: o PT e o PCdoB. É hora de Haddad prometer o Referendo Revogatório das medidas de corte do governo Temer, inclusive da Lei trabalhista, previdenciária e das privatizações no Pré-sal, da Petrobrás, e da Embraer (já demonstrada na sua visita às instalações de São José dos Campos). A migração essencial dos votos do Lula para o Haddad já no primeiro turno, pode não ser significativa se o discurso não tocar aqueles pontos e optar por dirigir-se para o Mercado ou para o centro. A mídia pode tentar descaracterizar a plataforma de Haddad e do PT, com a alegação do apoio oportunista de FHC no segundo turno; este lança a corda do afogado para derrubar o salvador. Uma provável aliança com o PDT de Ciro Gomes no segundo turno tem outra conotação; pode-se até falar em mercado, mas de mercado interno e consumo, das alianças com a burguesia industrial e comercial nacionais destruídas, e da defesa a recuperação do Estado.
Como alertado por muitos, a tribuna eleitoral deve servir para denunciar, e preparar uma forte mobilização popular (não só para o ato de ir e votar), incluindo o controle total das urnas, para assegurar o respeito a uma eventual vitória de Haddad e das forças progressistas. Só assim, diante de qualquer ação anticonstitucional e militar da direita golpista, haverá respaldo popular para apelar à outra parte das Forças Armadas, coronéis e soldados que têm uma tradição democrática e nacionalista com a qual o ex-presidente Lula, e o ex-ministro Celso Amorim, puderam contar no seu governo democrático e popular.
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