A aproximação de Lula a Dilma – uma leitura crítica
Ele 'saiu de cena' como Pelé, no auge. Mas não há garantia de que seu retorno, principalmente agora, buscando relegitimar ou reestruturar o governo Dilma, não possa de alguma forma sair chamuscado

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Poderia estar prevista esta aproximação para o segundo mandato. Poderia estar nos planos de ambos. Lula se chegar para conselhos mais diretos e explícitos, ou mesmo assumir um cargo executivo na reeleição de Dilma Rousseff. Mas algumas coisas podem ser questionadas.
Uma primeira é que esta aproximação não veio numa hora em que Dilma venceu o adversário com larguíssima margem de votos, fosse em primeiro ou se segundo turno. Se tivesse havido essa larguíssima margem, a aproximação de Lula seria apenas um dos fatores do sucesso ou da vitória. Já com margem estreita, a mesma aproximação autoriza se desconfiar que possa ser um remendo para se sobrelegitimar heteronomamente – com Lula-, um governo que teve aprovação de raspão.
Esta questão que poderia passar despercebida tem interesse no sempre delicado e agora mais frágil equilíbrio governamental ao qual 1) a oposição PSDB ganhou força óbvia pelos números da derrota-confirmação-de-resistência, 2) o grande partido aliado, o PMDB é apenas um biombo numérico oportunista, seduzível a qualquer hora para qualquer lado, inclusive o lado oposto se lhe convier; 3) juízes do Supremo Tribunal Federal vivem o paradigma Joaquim Barbosa de se manifestarem pela imprensa, com frases de efeitos, por todos, Gilmar Mendes comparando Petrolão a Mensalão, e 4) Dilma Rousseff nesta campanha, no palanque, mostrou-se com um nível cênico facial de impaciência que passou a impressão de que o cargo lhe é um fardo, o que pode ser uma verdade.
Cada um desses fatores, isoladamente, não teria grande importância. Seria como uma pedrinha avulsa num sapato que rapidamente se livra. Mas o conjunto é daqueles casos em que a soma do fatores é mais do que a mera reunião dos fatores isolados. Eles se potencializam e se realimentam uns nos outros. O resultado seria uma difícil governabilidade.
Uma segunda questão é o próprio Lula. Ele 'saiu de cena' como Pelé, no auge. Mas não há garantia de que seu retorno, principalmente agora, buscando relegitimar ou reestruturar o governo Dilma, não possa de alguma forma sair chamuscado. Lula certamente avaliou isso e eticamente, em nome de um projeto 'maior' chamado Partido dos Trabalhadores vai, sim, apenhar seu nome. Mas correrá riscos. Se o segundo mandato Dilma for como alguns estudiosos analisam, um desastre, Lula estará encrencado. Se houver daqueles consertos inacreditáveis que Lula conseguia à sua época, aí 2018 ser-lhe-á fácil.
Nem tudo é carisma. Mas o carisma é muito. Numa sociedade tão facilmente impactável pelo pensamento emocionalista, isso que se chama de 'carisma' – a legitimidade que Lula ainda tem sobre uma parcela imensa da população – é um fato dos mais poderosos. A História e a Ciência Política comparadas bem o demonstram no estudo de outros países sulamericanos.
Talvez por isso tudo, por exemplo, Dilma esteja tendo alguma dificuldade em conseguir um ministro da Fazenda, ao mesmo passo que tem havido alguns 'não, muito obrigado'. Se o primeiro mandato de Dilma foi relativamente fácil para ela, sem uma gritaria oposicionista estruturada, o segundo não prevê um mar de almirante.
Pessoas que querem razoavelmente o bem do Brasil torcem para que tudo dê certo com qualquer presidente, afinal incêndio não escolhe quem vai queimar. Dilma precisará de toda sua competência e inteligência para este segundo mandato. Se a aproximação de Lula for decisiva, que ele arregace as mangas e não falte para com seu dever.
Publicado no blog Observatório Geral
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