80 anos de John Lennon: músico e militante político perseguido pelos EUA

A imprensa burguesa tenta esconder a fase política de um dos líderes dos Beatles

John Lennon
John Lennon (Foto: Reprodução)


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Por Juca Simonard

Nesses 80 anos do compositor britânico John Lennon, nascido em 9 de outubro de 1940, gostaria de relembrar uma época de sua trajetória musical propositalmente escondida pela imprensa burguesa. Apesar de ser porta-voz de toda uma geração de jovens e adultos das décadas de 1960 e 1970, a fase mais propriamente política de Lennon é omitida pela direita. A época política do artista, porém, é sua fase mais importante e representa sua maior maturidade de composição. 

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Lennon, assim como os outros Beatles, é oriundo da classe operária inglesa nascida no período da Segunda Guerra Mundial, em que o país ficou devastado pelos bombardeios nazistas. Nasceu em uma cidade tipicamente industrial, Liverpool, e assim como vários jovens de sua época, nas década de 50 e 60, foi influenciado pelo Rock n’ Roll, surgido entre os trabalhadores norte-americanos. O dinamismo do Rock, mesmo focado, no caso dos Beatles inicialmente, em músicas dançantes, representava uma tendência de revolta contra o status quo imposto pelas classes dominantes conservadoras.

Mas até o final da década de 1960, Lennon não era diretamente político. Essa sua fase militante inicia-se com a explosão política causada no período de 1967 e 1968, quando estouraram no mundo diversas manifestações contra a invasão imperialista no Vietnã. Por isso, inicialmente, Lennon assume posições pacifistas, em defesa do “amor” e contra a guerra.

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Esse período político do Lennon “hippie” é lembrado pela imprensa burguesa, mas escondendo que esses posicionamentos mais confusos da época, expressos principalmente na música “Revolution” dos Beatles, representaram apenas uma fase transitória para sua atuação política mais radical.

Mesmo assim, é importante destacar esse início da fase mais ativa de Lennon, realizando “bed-ins” pelo mundo e compondo músicas contra a guerra, como “Give Peace a Chance”. John Lennon passa de ser um mero artista para ser um militante político, e alia-se com militantes importantes da juventude da década de 1960, como Abbie Hoffman, e com outros artistas anti guerra. Por esses motivos, foi proibido inicialmente de realizar um de seus protestos em Nova Iorque, nos Estados Unidos, principal potência responsável pela invasão do Vietnã.

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Deixando os Beatles e ainda morando na Inglaterra, Lennon compôs algumas músicas políticas importantes, como a já citada “Give Peace a Chance”, mas também “Working Class Hero” - que denuncia a situação de opressão moral e intelectual da classe operária; “Power to the people” - em defesa dos protestos que ocorriam no mundo inteiro, principalmente após maio de 68; “Don’t Wanna Be a Soldier Mama I Don’t Wanna Die” -  criticando a guerra novamente; “Gimme Some Truth” - contra a política mentirosa e cínica dos governos imperialistas; e “Imagine” - uma defesa do socialismo utópico, que mostrava a confusão política do artista, mas que de um ponto de vista geral indicava a radicalização de Lennon.

Também nessa época, vale destacar que o compositor conseguiu realizar já uma ampla crítica ao sistema político e social. Em épocas de decadência capitalista aguda, a tendência é a arte apresentar duas tendências: crítica política, mas também composições focadas no subjetivo que mostram a degradação moral do indivíduo - uma expressão da degradação moral do coletivo. 

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Por isso, músicas como “How?”, “It’s so Hard”, “Hold On” e muitas outras dos álbuns John Lennon/Plastic Ono Band (1970) e Imagine (1971) passagem uma mensagem “depressiva”.

Destaque deste tipo de composição para “God” - em que Lennon faz uma crítica a tudo que ele e outros acreditavam anteriormente, como budismo, cristianismo, Beatles, Elvis etc. - e para “Mother”, onde ele retrata a sua juventude - abandonado pelos pais, Lennon foi morar com a tia logo cedo, e mostra na música uma situação extremamente comum para famílias da classe operária, principalmente em momentos de crise econômica.

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Lennon, ativista político

Sua fase mais política, porém, chega no álbum seguinte: Sometimes in New York City. É expressamente essa época que os reacionários procuram esconder. Lennon, que já vinha participando de manifestações de rua, muda-se para os Estados Unidos e começa a realizar comícios contra o presidente Richard Nixon, contra a guerra e em defesa de presos políticos.

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Esse período é reproduzido integralmente nesse álbum. “Woman is The Nigger of the World” critica a situação de opressão da mulher na sociedade, retratando-a como o “Nigger” (termo pejorativo para escravos negros nos EUA) do mundo; “Sisters O Sisters” é um manifesto idealista de Yoko Ono para as feministas da época; “Attica State” é uma música contra o genocídio no presídio de Attica, uma espécie de Carandiru estadunidense, e a situação opressiva nos presídios. “Born in a Prison” mostra o sistema político inteiro como uma prisão que oprime o ser humano; “New York City” é um retrato do movimento da contracultura dos anos 60 em Nova Iorque.

No Lado B do disco, há duas músicas em defesa da independência da Irlanda contra o imperialismo inglês - crise política extremamente aguda na década de 1970, quando o governo britânico impôs uma ditadura (pseudo-democrática e quase fascista) contra os irlandeses. Essa situação, para os que desconhecem, é retratada em vários filmes. Para indicar um: Em Nome do Pai, com Daniel Day-Lewis.

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Enfim, voltando a Lennon, “Sunday Bloody Sunday” denuncia de forma extremamente radical o massacre dos ingleses que mataram manifestantes irlandeses durante um protesto pela independência - Lennon diz “deixe a Irlanda com os irlandeses, bote os ingleses de volta ao mar”, fala da morte de crianças, afirma que agora é hora dos ingleses “queimarem” etc. - esse tema será abordado, em seguida, pela banda de rock irlandesa U2 em música do mesmo nome; em “Luck of The Irish”, o compositor faz uma apologia à Irlanda, um país lindo, mas oprimido.

Outras músicas são “John Sinclair” - em defesa de um ativista político e poeta do mesmo nome que foi condenado a 10 anos de prisão por posse de dois cigarros de maconha; “Angela” - que denuncia a prisão política da militante comunista Angela Davis, dos Panteras Negras (partido político armado dos negros norte-americanos) e do Partido Comunista; e We’re all Water, música de Yoko Ono sobre sobre a igualdade dos seres humanos (fisicamente diferentes, mas iguais por dentro).

Perseguido pelo governo Nixon

John Lennon torna-se o músico de toda uma geração de militantes, papel que Bob Dylan exerceu durante os anos 1960. Lennon realiza comícios, como o pela liberdade de John Sinclair, que obriga o governo Nixon a libertar o ativista. Além disso, com sua popularidade, começa a dar popularidade para o Partido dos Panteras Negras, trazendo seu dirigente Bobby Seale para a TV hegemônica para falar sobre a libertação dos negros e do armamento da população contra a direita.

Assim, o governo Nixon, que foi um dos mais reacionários dos Estados Unidos, passa a ver Lennon como um inimigo político a ser combatido. O documentário “USA vs. John Lennon” mostra bem como o artista foi espionado e vigiado pelo F.B.I e ameaçado pela direita. Essa perseguição fez com que o álbum seguinte de Lennon, Mind Games (1973), fosse um pouco menos político, mas ainda com críticas importantes. Na música Nutopian National Anthem, Lennon trata de forma satírica seus problemas de imigração nos EUA, uma vez que, através de um processo arbitrário contra Lennon por posse de drogas ocorrido quando morava na Inglaterra, Nixon queria deporta-lo (algo que conseguirá mais tarde). “Bring on the Lucie (Freda People)” é um hino político; e assim por diante.

Para mostrar como a perseguição do imperialismo a John Lennon foi prejudicial para seu desenvolvimento artístico: os álbuns seguintes, em meio à deportação e à perseguição, voltou a trazer problemas pessoais para Lennon (que se separa momentaneamente de Ono) e volta com músicas mais intimistas. Ele chega a se afastar da música por cinco anos, voltando a gravar em 1980, ano em que morre em um assassinato até hoje incompreendido, quando volta aos Estados Unidos.

Em 8 de dezembro de 1980, Lennon morre aos 40 anos, comovendo toda uma geração de jovens agora adultos e jovens da época. Hoje, se for ao Central Park em Nova Iorque, verá como Lennon foi um artista influente da cidade. E até mesmo o governo norte-americano, que perseguiu Lennon e seus companheiros, procura se aproveitar de sua figura através de uma demagogia extremamente cínica.

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