2018: o ano da vitória da hipocrisia
O colunista do 247 Emir Sader observa que "2018 representa o fim do longo ano que começou com 2013, quando começou o profundo processo de reversão do que de melhor o Brasil havia construído"; para ele, as manifestações daquele ano "foram apropriadas pela direita" com um único objetivo: ser "diretamente contra o Estado e contra o governo do PT"; em 2016, segundo ele, "o reino da hipocrisia chegava ao governo e a mídia, o Judiciário, o Congresso e o grande empresariado vestiam a roupa da hipocrisia para dar apoio ao governo que assaltava o governo e o Estado, para dilapidar o patrimônio publico, as políticas sociais, os direitos dos trabalhadores e a política externa soberana"
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2018 representa o fim do longo ano que começou com 2013, quando começou o profundo processo de reversão do que de melhor o Brasil havia construído. Não interessa como começaram as manifestações daquele ano, nem suas intenções originais. Interessa que foram apropriadas pela direita, com seu monstruoso aparato midiático, para dar início ao processo de desqualificação da política – valendo-se do "contra tudo isso que está aí", das manifestações -, mas dirigido diretamente contra o Estado e contra o governo do PT.
A reversão da imagem da Petrobrás aprofundou a criminalização da política feita pela Lava Jato, junto a reversão da imagem do PT, que vinha desde o chamado "mensalão". Foram duas grandes vitórias da direita, essas duas reversões.
Tudo o que o Brasil tinha feito de melhor começou a ser revertido na sua imagem pública: a prioridade das políticas sociais; uma economia que crescia com distribuição de renda; o fortalecimento dos bancos públicos, vinculado a expansão das políticas sociais e ao crédito com juros baixos; uma política externa soberana, que fazia do Brasil um protagonista dos grandes temas do mundo; a própria imagem do Lula como o maior estadista do século XXI e mais importante líder da esquerda no século. Era precisa reverter tudo isso, para que fosse possível terminar com esse ciclo virtuoso da política brasileira.
O golpe de 2016 foi um dos auges do reino da hipocrisia: se fez como se a derrubada da Dilma tivesse sido legal, como se as tais "pedaladas fiscais" fossem razão para tirar da presidência quem havia sido recém-reeleita pelo voto popular. Como se um vice-presidente eleito e reeleito com um programa, pudesse, além do acesso ilegal à Presidência, colocar em prática um programa radicalmente oposto, o da oposição, derrotado quatro vezes seguidas nas eleições.
O reino da hipocrisia chegava ao governo e a mídia, o Judiciário, o Congresso e o grande empresariado vestiam a roupa da hipocrisia para dar apoio ao governo que assaltava o governo e o Estado, para dilapidar o patrimônio publico, as políticas sociais, os direitos dos trabalhadores e a política externa soberana.
Mas a hipocrisia precisaria ser elevada a níveis mais altos ainda, para que a oligarquia se apropriasse do poder e impedisse que o povo voltasse a influenciar nos problemas do país. Para que a hipocrisia da elite brasileira pudesse se traduzir num regime hipócrita.
Aí veio o processo e a condenação do Lula por um crime que ele não cometeu, ação hipócrita acobertada pela hipocrisia maior de considerar o Moro isento para julgar o Lula. E para aceitar que o Lula fosse condenado por um processo que não tem provas, mas convicções. O STF tornou-se a instancia máxima da hipocrisia nacional.
Mas tudo isso não bastava para consolidar a hipocrisia como o valor máximo do país neste ano de 2018. Era preciso impedir a vitória eleitoral do PT e o seu retorno à Presidência do Brasil. Primeiro, sem base legal, se proibiu, hipocritamente, o Lula de ser candidato, porque ganharia no primeiro turno e derrotaria todo tipo de hipocrisia reinante no país.
Para isso foi preciso gerar milhões de notícias falsas, com fotos e tudo, absurdas, para gerar rejeição a Haddad e permitir que fosse superado nas pesquisas. A hipocrisia da mídia não denunciou os absurdos da mamadeira e outros, o Tribunal Superior Eleitoral, ainda com evidências inquestionáveis de que eram grandes empresários, com nome e sobrenome revelados, que financiavam esses mecanismos que falsearam totalmente o resultado da eleição, imitando outros juízes, agiu com hipocrisia total e considerou a campanha eleitoral legal. Da mesma forma que juízes do STF, que pronunciaram combate às notícias falsas, não fizeram nada, uma vez mais agiram com a hipocrisia do silêncio.
O governo eleito é um poço de hipocrisias, apoiado pelo coro dos hipócritas na mídia, no Judiciário, no Congresso, nas entidades empresariais. Todos sabem que tudo foi uma farsa, que nada mais antigo na política que o eleito, seus filhos, os ministros e secretários que ele escolheu para o governo. Todos sabem que a aceitação do Moro de entrar pro governo ainda durante a campanha, bateu o recorde de hipocrisia. Todos sabem que basta arranhar um pouco para toda a corrupção que envolve o eleito, seus filhos e assessores, vir à tona. Queiroz é o nome da hipocrisia da hora.
Qual a base de uma hipocrisia tão difundida? A incapacidade da direita brasileira de eleger um governo com um mínimo de legitimidade, com políticas que conquistassem apoio popular. A continuidade da política econômica do governo do golpe, de forma ainda mais profunda, confirma que a direita segue sem alternativa ao neoliberalismo e, portanto, precisa lançar mão de artimanhas, mentiras, ilegalidades, para ganhar eleições. Só com muita hipocrisia, pode triunfar.
A esquerda, os movimentos populares, os democratas de todo tipo, tem que lugar pela verdade, pela desmistificação das hipocrisias reinantes. Mesmo contanto com uma situação muito desigual nos meios para dar a luta de ideias, contamos com a verdade, com a fragilidade de alternativa da direita e com suas contradições.
A vitória da hipocrisia sempre é passageira, como foi a mistificação do Collor, a do FHC, a do Temer e agora, a do Bolsonazi. Temos que dar essa luta cotidiana e nos prepararmos para reconstruir um Brasil democrático, justo, sem hipocrisias.
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