Em uma sequência de atos criminosos impensáveis e aplaudidos vivamente pela mídia, destituíram uma presidenta honesta, se apropriaram do poder executivo, lançaram polícia e judiciário no encalço dos que ousam defender a democracia e os trabalhadores e iniciaram o desmonte dos direitos e saque da nação
edit
“Tudo que é sólido desmancha no ar.” A afirmação feita por Marx e Engels, no manifesto comunista, que remete as transitoriedades e dinâmicas aceleradas da experiência humana, rende um epitáfio perfeito para o ano de 2016. Apesar das tensões que se acumulavam sobre a democracia brasileira, em grande parte como resultado da insatisfação de determinados setores com a distribuição da riqueza empreendida pelos governos do PT e com a progressiva inviabilização eleitoral dos projetos liberais, caminhávamos ainda, no início do ano, com relativa segurança, na direção de um país mais justo e democrático.
As transformações realizadas a partir de 2003 acumularam melhorias na vida dos mais pobres, fortaleceram as instituições democráticas e construíram as condições para fazer do Brasil uma potência econômica e uma nação respeitada em todo o mundo. Apesar do cenário internacional profundamente sombrio e do cerco feroz promovido contra o governo Dilma por reacionários sedentos por interromper as políticas distributivas e saquear o Estado, nossa democracia e nossa economia pareciam, no alvorecer de 2016, deter condições sólidas para garantir o estado de direito e impedir que os efeitos mais perversos da crise do capitalismo atingissem o grosso da população.
A democracia, o Estado de direito e nossa economia, como tudo que é sólido, desmancharam no ar durante o ano que findou. Não como resultado de um sopro de vento mas como ápice de um golpe de Estado urdido e financiado por setores os mais inescrupulosos e gananciosos da sociedade brasileira. Somaram-se os políticos mais corruptos, meios de comunicação com a ética de mercenários, um judiciário desmoralizado e escandalosamente parcial, o capital especulativo e uma miríade de outros parasitas decididos a arruinar o país em seu próprio proveito e interromper definitivamente o processo de ascensão social que marcou a década anterior. Contando com o enfeitiçamento de setores significativos da sociedade pela imprensa e com a desmobilização dos trabalhadores através da perseguição, seletiva e sem provas, contra suas principais lideranças, num teatro de “convicções” encenado pela imprensa e pelo judiciário, o bloco golpista obteve em poucos meses o maior recuo civilizacional da história brasileira.
Em uma sequência de atos criminosos impensáveis e aplaudidos vivamente pela mídia, destituíram uma presidenta honesta, se apropriaram do poder executivo, lançaram polícia e judiciário no encalço dos que ousam defender a democracia e os trabalhadores e iniciaram o desmonte dos direitos e saque da nação. Em poucos meses uma democracia sólida e uma economia promissora foram completamente arruinadas. A PEC do fim do mundo estraçalhou as possibilidades de desenvolvimento econômico do Brasil pelas próximas décadas, castigando os pobres com o fim dos investimentos sociais mais fundamentais e condenando a economia a inanição com o fim dos investimentos públicos e o desmonte do mercado interno. Já estão em curso as reformas da previdência e a trabalhista que desejam retornar as relações de trabalho aos parâmetros da escravidão e garantir que os pobres labutem duramente, a troco de migalhas, até a morte.
Definitivamente, 2016 é um ano que deveríamos poder esquecer. Infelizmente não é tão simples. O ano que terminou lança uma sombra sinistra sobre o futuro do Brasil e da maioria de seu povo. Se não dermos combate aos monstros que 2016 trouxe a luz do dia, e levou ao poder, eles nos devorarão e nosso tempo ficará marcado como aquele em que o Brasil, tendo tudo a sua frente, decidiu fracassar vergonhosamente, abandonando o projeto de construir uma nação próspera e justa e se permitindo ser transformado em uma imensa senzala.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247