100 anos de esquerda brasileira em um romance
Uma utopia que, viva ou morta como Arrigo, precisa ser ressignificada a fim de que tenha novos personagens entrando em cena
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O sociólogo e professor titular da Unicamp, Marcelo Ridenti, acaba de publicar o seu primeiro romance pela editora Boitempo. Especialista em sociologia e história da cultura, em particular da esquerda brasileira, o autor de Arrigo (este é o título do livro) oferece ao público leitor do nosso patropi 254 páginas de “um texto de ficção” que retrata alguns dos momentos mais significativos de um século da história das esquerdas no Brasil.
As aspas colocadas em “um texto de ficção” não são uma firula de quem escreve o presente artigo, mas sim a expressão da intenção de chamar atenção ao fato de que acontecimentos e personagens do livro não são inverossímeis. Muito pelo contrário, podem não ter acontecido/existido exatamente da forma como são narrados pelo autor – afinal, trata-se de um romance -, mas nos levam a relacioná-los a algo ou a alguém que de fato existiu na história.
Mais ainda, Arrigo, Mario, Lino, Pepe, Ivan, Galego, Diana, Aurora, Sima, entre dezenas de outros/as personagens peregrinam pelas páginas do romance de Ridenti lado a lado a Apolônio de Carvalho, Diógenes Arruda Câmara, Gregório Bezerra, Carlos Marighella e tantos outros anarquistas e comunistas, de tradição stalinista ou trotskista, que existiram concretamente, sendo que estes últimos também se fazem existir nos primeiros em várias das suas ações.
Lido por alguém que não conhece, por pouco que seja, a história das esquerdas brasileiras no século XX e de alguns dos seus militantes e dirigentes, o livro pode parecer sugerir a filiação à literatura fantástica latino-americana, que, sem sombra de dúvidas, deixa as suas pegadas na obra. No entanto, quando pensamos nas vidas de Apolônio, Diógenes, Gregório, Carlos e muitos dessa geração, não há como não concluir que as suas vidas por si só já são mágicas.
Narrado por um escritor que não consegue sair do apartamento do edifício Esplendor, onde se encontra sentado (vivo ou morto?) numa cadeira de balanço o camarada Arrigo, o romance de Ridenti representa, pelo menos na minha livre apropriação, a história de uma utopia que se esgarçou junto à crise do socialismo do final do século XX. Uma utopia que, viva ou morta como Arrigo, precisa ser ressignificada a fim de que tenha novos personagens entrando em cena.
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