1º de julho – Greve geral: entregadores de aplicativos exigem direitos básicos

Uma paralisação que traz diversos elementos para nos fazer pensar sobre temas como precarização de trabalho e o ideal de “empreendedorismo”



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Uma greve, muitas mensagens. O movimento dos entregadores de aplicativos, que cruzam os braços nessa quarta-feira, dia 1º, por condições dignas de trabalho, é repleto de simbolismo. Uma paralisação que traz diversos elementos para nos fazer pensar sobre temas como precarização de trabalho e o ideal de “empreendedorismo” vendido pelo modelo neoliberal que busca embalar de forma gourmet a precarização que é difícil de engolir.

A situação dos entregadores nos salta os olhos diariamente nas grandes cidades. E a categoria, que já vinha crescendo muito nos últimos meses, com a pandemia causada pelo novo coronavírus ganhou nova dimensão. Considerado um serviço essencial, os entregadores viram os pedidos de entrega aumentarem, mas ao contrário do que se imagina, a renda não acompanhou o crescimento. 

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A precarização da mão de obra, que é defendida com unhas e dentes pelo neoliberalismo adotado por Bolsonaro e Guedes, desvaloriza o serviço dos entregadores, que não possuem registro na carteira de trabalho, não inclui direitos básicos como férias, licença remunerada em caso de acidentes e alimentação durante a jornada de trabalho. São trabalhadores que precisam se virar para viabilizar o trabalho, utilizando seus próprios bens, como motos e bicicletas, ou tendo que arcar com os custos de aluguel para fazer as entregas. Trabalham com fome, longe de onde moram e muitas vezes dormem na rua por não terem forças para voltar para casa pedalando. 

Pesquisa realizada com esses trabalhadores no ano passado, revelou que a maioria são negros (71%), trabalham cerca de 10 horas diariamente, os sete dias da semana e ganham em média menos do que um salário mínimo por mês (R$936,00).

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Hoje, o quadro se agrava com a exposição diária à Covid-19. Ou seja, eles desempenham atividade essencial, principalmente para atender a uma população que não pode sair de casa por conta do isolamento social, mas não têm condições mínimas de trabalho. Um retrato acabado da exploração radical do trabalhador, num regime análogo à escravidão nos tempos modernos.

O modelo neoliberal, tão difundido pela imprensa, prega o sucesso individual como caminho para a geração de renda. A badalada meritocracia, que ignora a desigualdade, colocaria todos os cidadãos com a mesma possibilidade de sozinho, por esforço próprio, se tornar um vencedor, um empresário de sucesso. Neste contexto, a organização dos trabalhadores, a representação sindical, seriam desnecessárias. O coletivo não caberia na estrutura em que o que vale é o indivíduo. A desregulamentação, a uberização, como o futuro no presente. Seria lindo, se não fosse irreal e, até mesmo trágico. E é essa tragédia que emerge da realidade de quem pedala ou dirige sua moto na rua em busca de sustento.

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O que os entregadores de aplicativo nos dizem é que querem respeito. E o que nos apontam é que esse respeito e as condições de trabalho só serão conquistadas com organização, com a aposta no coletivo, na construção de representação dos trabalhadores. Com enfrentamento dos que fazem da exploração do trabalho o caminho do enriquecimento. 

O ataque sistemático das entidades representativas dos trabalhadores, dos sindicatos, das centrais sindicais, faz parte da estratégia utilizada nos últimos anos a serviço do desmonte dos direitos e das conquistas. 

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Esse movimento, que circula nas ruas e que neste dia 1º de julho entra na pauta da sociedade, convidada a participar deixando de fazer pedidos nos aplicativos, nos mostra que o que é embalado como modernidade pode ser apenas estratégia para a aceitação pacífica da precarização. E nos ressalta o valor da organização coletiva. Assim, mais do que apoio determinado aos entregadores, a CUT Rio agradece a esses trabalhadores por fazer a sociedade refletir, antes que seja tarde.

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