Viagem de Lula à China prova que América Latina não é mais "quintal" dos EUA
A cooperação vantajosa com a China e a Rússia contrasta claramente com o dedo acusatório arrogante e o intervencionismo oferecido pelos Estados Unidos

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Por Oliver Vargas, jornalista baseado na América Latina, cofundador do Kawsachun News e apresentador do podcast 'Latin America Review'. Artigo publicado originalmente no RT.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva acaba de retornar de sua aguardada e bem-sucedida viagem à China, gerando otimismo e entusiasmo por um papel mais importante da América Latina, conforme emerge da sombra dos Estados Unidos.
A cerimônia de boas-vindas do presidente chinês Xi Jinping foi o primeiro sinal de que a viagem seria um sucesso para todos os envolvidos. Enquanto ele e Lula caminhavam pelo tapete vermelho, a banda militar chinesa tocou uma versão de "Novo Tempo", uma música brasileira dos anos 80 associada aos protestos contra as ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos naquela época.
A portas fechadas, foram assinados 15 acordos bilaterais e memorandos de entendimento, incluindo acordos de investimento, planos de pesquisa e desenvolvimento, padrões alimentares, agências estatais de notícias, transferência de tecnologia e cooperação na construção do sétimo Satélite sino-brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). A reunião se baseou em anos de parceria estratégica. A China substituiu os EUA como o maior parceiro comercial do Brasil em 2009, e o evento teve como objetivo aprofundar esse processo.
No entanto, a faceta mais interessante da visita foi o tom das declarações públicas de ambos os líderes, pois foi além das formalidades diplomáticas e mostrou um compromisso claro de ambos os países em assumir um papel de liderança que desafiará os anos de dominação unipolar de Washington.
"Eu me pergunto todas as noites por que todos os países são forçados a fazer seu comércio apoiado pelo dólar. Por que não podemos fazer comércio apoiado em nossa própria moeda?" disse Lula em um evento em Xangai. O conflito na Ucrânia também estava na agenda, e Lula deixou claro que os Estados Unidos enviando bilhões de dólares em armas para o regime de Kiev estava escalando, e não acalmando, o conflito. Ele comentou: "É necessário que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar sobre a paz. A União Europeia precisa começar a falar sobre a paz".
Reafirmando os próprios interesses da América Latina Esta visita marca o início de uma relação muito mais próxima entre a América Latina e aqueles que desafiam a dominação dos Estados Unidos no cenário internacional. Depois que Lula retornar, o próximo grande item na agenda será a visita do ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, que iniciará uma turnê pela América Latina, visitando também a Venezuela, Cuba e Nicarágua.
As visitas de Lavrov serão uma oportunidade para discutir áreas de interesse comum para a Rússia e a América Latina, como comércio, investimento, energia e defesa. Ele também tentará fortalecer os laços culturais em um momento em que Washington está promovendo a xenofobia contra os russos e a cultura russa globalmente.
O sucesso da viagem de Lula à China certamente dará um impulso extra aos governos latino-americanos, que receberão a delegação oficial da Rússia esta semana. A cooperação vantajosa com a China e a Rússia contrasta claramente com o dedo acusatório arrogante e o intervencionismo oferecido pelos Estados Unidos.
No entanto, a América Latina não é um participante passivo no processo de construção de um mundo multipolar. A região está assumindo papéis de liderança no processo. A ex-presidente brasileira e aliada de Lula, Dilma Rousseff - que também é vítima de um golpe apoiado pelos EUA - está iniciando seu novo papel como chefe do banco de desenvolvimento dos BRICS em Xangai, um papel de coordenação crucial para Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, bem como para uma possível expansão dos "BRICS plus" para incluir mais economias emergentes do Sul Global.
Reação dos EUA
Washington tentou cortejar Lula desde que ele foi eleito presidente. O Brasil é a maior economia da América Latina, então não seria prudente não fazê-lo. O Departamento de Estado emitiu condenações oficiais aos manifestantes de direita que atacaram o Congresso brasileiro com o objetivo de impedir Lula de assumir o cargo, suas declarações em apoio à "democracia brasileira" foram talvez uma tentativa de comunicar que os EUA não trabalhariam para minar a presidência de Lula, como haviam feito contra outros presidentes de esquerda, da Bolívia à Venezuela.
Por essa razão, Washington não respondeu formalmente à viagem de Lula à China e à próxima reunião oficial com Lavrov. No entanto, a indústria de "analistas" e "comentaristas" pró-EUA tem pesado e estabelecido uma narrativa de que Lula estava marcando um "gol contra" ao se aproximar da China e da Rússia.
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