América latina

Mercosul buscará fechar acordo comercial com a União Europeia, com discrepância uruguaia

Os presidentes dos países do Mercosul voltaram a se reunir em cúpula e concordaram em concluir as negociações adiadas para um acordo comercial com a União Europeia

(Foto: Isac Nóbrega/PR)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Lucas González Monte, enviado especial, Telám - Os presidentes dos países do Mercosul voltaram a se reunir hoje em cúpula e concordaram em concluir as negociações adiadas para um acordo comercial com a União Europeia (UE), área em que três dos quatro sócios criticaram qualquer eventual "unilateralismo" nas negociações com outros blocos ou nações, como afirmou o Uruguai, que não assinou o documento final.

Alberto Fernández, Luiz Inácio Lula da Silva, Mario Abdo Benítez e Luis Lacalle Pou se encontraram em um cartão postal que não era registrado desde 2019: o encontro desta manhã no imponente Parque Nacional do Iguaçu foi o primeiro com presença perfeita de dirigentes após mais de 3 anos em que prevaleceu a virtualidade pandêmica e as divergências entre parceiros regionais.

continua após o anúncio

"Durante o encontro, os presidentes renovaram o compromisso do Mercosul com o fortalecimento da democracia, do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos, e destacaram a importância da agenda econômica, comercial, social e cultural do bloco em benefício de seus cidadãos", diz a nota final documento assinado por Fernández, Da Silva e Abdo Benítez.

Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente Fernández foi prontamente consultado sobre a decisão do Uruguai de não assinar a declaração final.

continua após o anúncio

“O Uruguai tem uma visão que o presidente Lacalle vem mantendo há algum tempo, que persiste na ideia de que os sócios do Mercosul podem negociar o Mercosul de forma autônoma, e de alguma forma expressa essa diferença ao não assinar a decisão, mas é uma decisão que nós sabemos, ", respondeu Fernández.

Os presidentes de Argentina, Brasil e Paraguai concordaram no texto sobre "a necessidade de abrir um espaço de reflexão política sobre a modernização do bloco, incluindo o fortalecimento da agenda interna para maior integração de suas economias, bem como a inserção internacional, de forma consensual e solidária, para enfrentar os desafios de um cenário mundial em transformação, afetado por mudanças significativas no mapa da produção e do emprego, com efeitos visíveis na reconfiguração das cadeias globais de valor".

continua após o anúncio

É neste parágrafo que se enquadra a dissidência do Uruguai, que não é nova, já que não assinou o documento final da cúpula anterior, em Montevidéu, e que se concentra na reivindicação de flexibilização do estatuto fundador do Mercosul para que cada país membro pode fechar acordos comerciais sem a necessidade do acordo dos demais países do bloco.

Desta forma, não isenta de debates e polêmicas, a cúpula do Mercado Comum do Sul serviu para deixar clara a vocação de todos os países para avançar no acordo com a UE e que, além disso, compartilham a esperança de que o A Presidência Pro Tempore de Lula servirá agora para negociar um entendimento justo entre os blocos.

continua após o anúncio

Alberto Fernández, na qualidade de anfitrião, reiterou a posição da Argentina ao dizer que é necessário “integrar-se ao mundo não só como fornecedores de matérias-primas, mas também como exportadores de produtos acabados”.

O chefe de Estado argentino tem uma posição semelhante à do presidente brasileiro: o TLC (Tratado de Livre Comércio) com a UE pode ser benéfico para o desenvolvimento, mas tem que ser um acordo justo para todas as partes.

continua após o anúncio

"Ninguém pode nos condenar a ser fornecedores da matéria-prima que outros industrializam e depois nos vendem a preços exorbitantes. Uma visão que não dê conta da dimensão do que estou dizendo aqui pode levar alguns a pensar que assim não atingir os padrões de livre comércio que alguns sócios desejam", disse, aludindo à posição do governo de Luis Lacalle Pou.

Nesse sentido, disse não estar "no lugar isolacionista" em que alguns atores o querem colocar: "A apresentação de novas demandas em matéria ambiental (...) qual ambiente, sem registro das três dimensões da sustentabilidade", esclareceu.

continua após o anúncio

Lula, por sua vez, prometeu hoje "concluir" as negociações, mas pediu aos demais líderes uma "resposta rápida e contundente" à "inaceitável" demanda ambiental apresentada pelos europeus.

O líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) retomou os conceitos que já havia avançado em sua última passagem pela Europa e que podem ser resumidos na ideia de um acordo "equilibrado".

continua após o anúncio

Ele descreveu como "inaceitável" a carta enviada em março por Bruxelas na qual haveria ameaças de sanções em caso de desrespeito às normas de conformidade ambiental.

"Parceiros estratégicos não negociam com base na desconfiança e na ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente", disse.

Em tema primordial para a Argentina, Lula também voltou a defender a "adoção de uma moeda comum para realizar operações de compensação" entre os países membros, o que "contribuirá para reduzir custos e facilitará ainda mais a convergência".

"Refiro-me a uma moeda de referência específica para o comércio regional, que não eliminará as respectivas moedas nacionais", afirmou.

Abdo Benítez, naquela que foi sua última cúpula de presidentes, garantiu por sua vez que o compromisso do Paraguai com o Mercosul é "sólido" Ao

contrário de seus colegas, o presidente paraguaio deu um enfoque mais regional e colocou na agenda do bloco a situação política regional na Venezuela.

Abdo Benítez destacou que "o único limite razoável deve ser o respeito à democracia e aos direitos humanos", pelo que acrescentou que vê com "grande preocupação" os recentes acontecimentos na Venezuela quanto à desqualificação da candidata oposicionista Maria Corina Machado.

A esse respeito, Alberto Fernández pediu, posteriormente, que apoie o diálogo para que sejam os venezuelanos quem resolvam os problemas de seu país.

Enquanto isso, o uruguaio Lacalle Pou reiterou os conceitos de "flexibilidade" do bloco e ameaçou "fechar acordos unilaterais", algo abertamente contestado por seus colegas.

Em tom mais diplomático do que na cúpula de Montevidéu, ele disse que a afirmação de seu país "não é caprichosa".

"O mundo continua mudando. Novas necessidades e oportunidades são geradas (...). Nossa região está mudando e tem uma oportunidade única, não só pelas matérias-primas, mas também pela inteligência do nosso povo", disse o presidente do Uruguai.

Por isso, desejou "boa sorte" a Lula e pediu-lhe que gerasse "um pouco de otimismo no já abundante pessimismo sobre este acordo".

Também esteve na cúpula o presidente da Bolívia, Luis Arce, cujo país há anos busca ser membro pleno do Mercosul.

"Nossa região é seriamente afetada pelas restrições e regulamentações impostas pelo sistema financeiro dos Estados Unidos, que limitam as opções de financiamento e o acesso aos mercados internacionais, tornando necessário reduzir a dependência do dólar norte-americano e diversificar nossas relações econômicas e comerciais", afirmou Arce. em seu discurso.

Considerou importante "buscar alianças estratégicas com outros players internacionais como a China, que oferecem alternativas ao dólar no comércio e no investimento", bem como "trabalhar em conjunto para fortalecer" as moedas locais a "nível regional", promovendo a sua utilização nas transações internacionais.

Após os discursos e a transferência da Presidência Pro Tempore, os dirigentes fizeram a "foto de família" tendo como pano de fundo as Cataratas do Iguaçu, mostrando uma história de mais de 30 anos de viagens, com mais encontros do que desencontros e com a sensação de que há muito por onde passar.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247