América latina

Em referendo, Uruguai decide manter reformas neoliberais de Lacalle Pou

Com apenas 1% de diferença, o "não" venceu e lei de urgente consideração permanece intacta

(Foto: Reuters)


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Michele de Mello, Brasil de Fato - O "não" venceu no referendo popular do Uruguai com uma diferença de apenas 1% dos votos. O Tribunal Eleitoral informou na noite de domingo (28) que 49,86% optou por não revogar a lei de urgente consideração (LUC), enquanto 48,82% votou "sim" pela revogação de 135 artigos da legislação. Cerca de 2,2 milhões de pessoas participaram do pleito e 1,3% votou em branco. 

"É o retrato de um país dividido", afirmou José Oliveira, dirigente da central PIT-CNT e um dos coordenadores da campanha pelo "sim". Dentre os 20 departamentos uruguaios, Canelones, Montevideo e Paysandú foram as únicas regiões onde a opção pela revogação obteve a maioria.

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O presidente Luis Lacalle Pou, que defendia o "não", afirmou que o resultado já era esperado e que agora seguirá focado em temas "vitais" para o país, como uma reforma da previdência e mudanças no sistema educacional.

A Lei de Urgente Consideração foi o carro-chefe da campanha do político de extrema direita à presidência do Uruguai. A LUC foi aprovada em 2020 com 476 artigos que alteram a Constituição uruguaia em aspectos relacionados à segurança, financiamento do Estado, políticas públicas e até o direito à greve. 

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A conquista do referendo foi um movimento importante contra a agenda de Lacalle Pou, sendo garantido através de uma campanha promovida por sindicatos, organizações sociais e movimentos populares, que reuniram 763.443 assinaturas em julho de 2021.

A consulta contou com 85% de participação do eleitorado de cerca de 2,6 milhões de pessoas. A Comissão Nacional da campanha pelo "si\m" afirmou que foi uma "jornada democrática fundamental". Enquanto o líder da Frente Ampla, que governou o país nos três períodos que antecederam a atual gestão, Fernando Pereira declarou que a mensagem do referendo foi clara e Lacalle Pou "não pode seguir governando de costas para metade da população".

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Pou diz que referendo é "etapa superada"

Agência Regonal de Notícias - O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, considerou que a vitória do "NÃO" neste domingo no referendo que colocou em debate a revogação de 135 artigos da lei de consideração urgente (LUC) é uma "etapa superada" e os regulamentos permanecem "firmes". A iniciativa é peça fundamental na gestão do governo de coalizão de centro-direita no Uruguai.

Ele disse isso em uma entrevista coletiva na Torre Executiva de Montevidéu, onde assegurou que a LUC é "um instrumento que dá mais direitos, mais liberdades e mais garantias". Da mesma forma, ao longo da conferência destacou o fato de que o governo que dirige está comprometido com o diálogo com a oposição e, portanto, afirmou que o Parlamento é “o lugar onde se faz a síntese das diferentes opiniões”.

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“A lei de consideração urgente foi um compromisso para o país, é uma lei pensada para o bem de todos os uruguaios, estamos convencidos de que é um instrumento que dá mais direitos, mais liberdades e mais garantias”, enfatizou.

Além disso, o presidente disse que a partir desta segunda-feira estarão atentos a questões "urgentes" como educação, reforma da previdência, assentamentos ou relações internacionais.

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"Página vencida, amanhã continuamos com o mesmo otimismo, a mesma vontade, com uma coligação que tem mostrado firmeza na diversidade", enfatizou em referência aos cinco partidos políticos que compõem a coligação governamental.

Com 99,1% dos votos apurados pela Justiça Eleitoral, o "NÃO" - somado aos votos em branco que também somam para esta opção - obtém 51,2%, enquanto o SIM acumula 48,8%. Para que os artigos fossem revogados, foi necessário que esta última opção agregasse mais da metade dos eleitores.

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Triunfo político

Duas horas antes de Lacalle Pou falar, os promotores da revogação dos artigos deram uma entrevista coletiva. O sindicalista José Olivera disse que os cidadãos devem se sentir "orgulhosos" do voto.

Da Frente Ampla, o senador Mario Bergara avaliou que o resultado foi "uma vitória política" para a oposição e as organizações sociais que promoveram o referendo. “Pelo menos metade do país não vê bem que se legisla com base neste tipo de leis tão grosseiras”, disse o legislador.

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Relativamente ao resultado, Lacalle Pou sublinhou que foi “quase uma cópia carbono” do segundo turno das eleições nacionais de 2019 quando conquistou a presidência e sublinhou que “nada deve mudar” na sua gestão.

"Não sou analista. Estamos convencidos do rumo que estamos tomando, ninguém acredita que seja o dono da verdade, mas estamos convencidos de um projeto, começamos a governar com uma pandemia e agora com uma guerra e não partimos do nosso programa de governo, então o povo julgará, enquanto isso temos um mandato a cumprir", concluiu.

A lei

A LUC contém 476 artigos e é o resumo das principais medidas da coligação governamental que levou Lacalle Pou à presidência do país. Essa regra reflete o "Compromisso com o país" assinado pelo Partido Nacional, Partido Colorado, Conselho Aberto, Partido Independente e Partido Popular, antes do segundo turno de novembro de 2019, no qual Lacalle derrotou o esquerdista Daniel Martínez.

Da lei, a Frente Ampla (esquerda) e organizações sociais questionaram 135 artigos e reuniram as assinaturas necessárias para convocar o referendo que aconteceu neste domingo.

A gestão dos preços dos combustíveis, a limitação da participação dos professores nas decisões educativas, a regulamentação do direito de greve, o despejo de pessoas que alugam sem garantia, a flexibilização dos controles de lavagem de dinheiro, mudanças no procedimento de adoção, portabilidade do número (que permite trocar de operadora de celular sem perder o número) e diversas regulamentações relacionadas à segurança são alguns dos pontos mais questionados pela Frente Ampla e organizações sociais.

Dos 19 departamentos que compõem o país, a opção "Sim" venceu em Montevidéu e Canelones, onde governa a Frente Ampla, e em Paysandú, cujo prefeito é do Partido Nacional (do presidente Lacalle Pou). Nos demais, venceu a opção "Não". Em alguns departamentos como Rivera e Artigas (no norte do país, na fronteira com o Brasil), a vitória foi por uma grande diferença: 74% a 25% e 68% a 32 %, respectivamente.

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