América latina

Censura a ministro de Arce expõe divisões do MAS

Senador governista Santos Ramos denunciou uma “negociação” para desaprovar a gestão do ministro Eduardo del Castillo

Luis Arce
Luis Arce (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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Télam - A decisão tomada na terça-feira (27) à noite por mais de dois terços dos membros da Assembleia Legislativa (AL) boliviana de aprovar a censura do ministro do Governo Eduardo del Castillo parecia marcar uma ruptura nas relações entre o Parlamento e o Governo, mas, acima de tudo, expôs o feroz estágio do partido governista, dividido entre o setor que responde ao presidente Luis Arce e aquele que se junta ao ex-presidente Evo Morales. Acontece que a censura de Del Castillo chegou a 101 votos em 144 porque os legisladores “evistas” se juntaram aos opositores. O ministro foi questionado sobre o manejo das forças de segurança com carros roubados no exterior e trazidos para o país e foi a terceira tentativa de censurar Del Castillo, que havia conseguido burlar as duas anteriores. "Lamentamos a censura, tendo em conta que se tratou de uma interpelação proposta pela oposição e que se juntaram legisladores do Movimento pelo Socialismo (MAS) e assim conseguiram dois terços", disse o senador da força governista Rubén Gutierrez, alinhado com Arce. O seu par da bancada e do setor de Santos Ramos, entretanto, denunciou uma “negociação” para desaprovar a gestão do ministro, porque, alertou, muitos se sentiram perseguidos pelo trabalho que fazia “e tiveram de o censurar”. E qualificou os que apoiavam a censura como "traidores do instrumento político" porque preferiam "vender a alma ao diabo", segundo a agência estatal ABI. Por outro lado, o deputado do Evista Gualberto Arispe indicou que Del Castillo não respondeu às perguntas dos interpelantes e que este foi o motivo de sua censura. “Ele não respondeu às perguntas que lhe foram feitas, Del Castillo já estava indefensável. Quando teve um bom desempenho, ganhou um voto de confiança, mas a essa altura já existe muito trabalho ineficiente por parte da polícia que ele comanda. Isso é fruto da avaliação verdadeira que o povo faz e por isso tem sido censurado”, argumentou. Para o deputado, Del Castillo deve deixar o cargo, questão que também está sendo debatida entre os setores. “Eticamente e moralmente deve ser mudado... Foi adiado, mas vamos ver o que faz o Governo, esperemos que não aja como um governo de fato e respeite a decisão da Assembleia, não como fez outrora Jeanine Añez", afirmou Arispe. Já para o deputado Rolando Cuéllar, o presidente não deve demitir Del Castillo, apesar de ter sido censurado. Del Castillo enfrentou sua terceira interpelação em menos de dois meses: em 23 de maio, foi interrogado sobre a prisão do governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho; e no dia 13 deste mês pela operação de segurança nos protestos registrados entre outubro e novembro de 2022 no departamento de Santa Cruz. Ontem à noite, o inquirido deu uma explicação ampla sobre como funciona o aparelho de segurança do Estado para impedir o arquivamento de viaturas roubadas, detectar e devolver as viaturas aos países de origem. Em 2022, foram identificados 52 veículos roubados, sendo 31 do Chile, 5 da Argentina e 16 do Brasil. “Todos foram devolvidos aos seus donos”, disse Del Castillo. As críticas ao evismo também vieram do secretário executivo do Sindicato Regional dos Trabalhadores de El Alto (COR), Marcelo Mayta, que lamentou que Evo Morales "mais uma vez tenha instruído seus parlamentares a censurar o ministro em cumplicidade com legisladores da ala radical da direita” e exigiu que o ex-presidente “deixe Arce governar”. Por outro lado, por parte da oposição, houve uma bagatela para comemorar a votação, pois é a primeira vez em 15 anos que o legislativo censura um ministro. “Venceram milhares de bolivianos vítimas do narcotráfico, do abuso policial e da perseguição. Caso Arce decida ratificá-lo, vai mostrar que seu governo é cúmplice de narcotraficantes e corruptos”, disse no Twitter a deputada da Comunidade Cidadã (CC) Luisa Nayar. Segundo decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional, Arce tem 24 horas para demitir o ministro e pode colocá-lo em outro cargo, mas ele não pode mais retornar à pasta do governo. O período de 24 horas foi estabelecido pela Lei 1350 de 2020, emitida pela Assembleia depois que a ex-presidente de fato Jeanine Añez ratificou dois ministros que haviam sido censurados. A Sentença Constitucional 020/23 confirmou que vigora esse prazo de 24 horas para afastar ministro censurado, embora tenha deixado em aberto a possibilidade de o funcionário censurado ter outra designação.

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