O conceito de totalitarismo como passaporte teórico
Não é justo ou adequado equiparar Socialismo e Nazismo sob a mesma rubrica de Totalitarismo. É um equívoco
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O conceito de totalitarismo tem sido usado como uma espécie de passaporte teórico para designar fenômenos políticos diferentes entre si. A filósofa judia-alemã Hanna Arendet ajudou a popularizar a expressão ao tratar do Nazismo, Stalinismo e Socialismo. Depois dela, na França, o filósofo Claude Lefort, do grupo Socialismo ou Barbárie , fez eco ao uso da palavra, criticando o socialismo real e a burocracia soviética.
Mas é preciso atentar para o fato de que a pensadora judia (casada, aliás, com um dirigente do PCA) era de formação liberal e tinha como modelo virtuoso de revolução a revolução americana, não a francesa e muito menos a soviética. Segundo ela, as revoluções sociais degeneraram-se em ditaduras sanguinárias, enquanto as revoluções políticas instauraram o reino da liberdade.
Ora, o que distingue umas das outras é a crítica e a crise do Estado Liberal, e a intervenção decidida do ente público no mercado, seja para acelerar a implantação do capitalismo monopolista ou para administrar as crises econômicas ou para reformar a sociedade em direção a uma socialização da riqueza. Naturalmente, esses modelos acentuaram muito o papel do Estado na sociedade, disciplinando, regulando e intervindo na economia, ora num sentido, ora noutro. O liberalismo ficava para trás.
O que faz o conceito de totalitarismo ganhar força e violência é o terrorismo de Estado, em alguns desses casos (a coletivização forçada, a expropriação dos judeus na Europa Central etc.). Esses processos levaram à consolidação do capitalismo monopolista e à industrialização pesada, e prepararam esses países para o esforço de guerra, particularmente a Alemanha e a União Soviética. Mas tratar indistintamente como totalitarismo fenômenos políticos distintos só se explica pelo viés do liberalismo e a apologia à revolução americana.
Não é justo ou adequado equiparar Socialismo e Nazismo sob a mesma rubrica de Totalitarismo. É um equívoco. Nem todo Estado socialista é totalitário, e o terrorismo é a violência empregada por outros que tinham como fim apressar a constituição de forças plenamente capitalistas, a partir da expropriação econômica de certos grupos sociais.
Os livros de Hannah Arendt são brilhantes, mas equivocados. E serviram de munição aos anticomunistas e antisocialistas no mundo inteiro, sobretudo nos países capitalistas, e por pensadores de esquerda críticos do socialismo real, como os autonomistas franceses, Lefort, Castoriadis e outros.
Livros de Hannah Arendt: Da Revolução, Origens do Totalitarismo.
Diga-se de passagem que Arendt sempre foi uma intelectual brilhante e séria. Contemporânea de Brecht, Benjamin, Rosa Luxemburgo, ela escreveu sobre eles. Homens em tempos sombrios. Exilou-se nos EUA e foi catedrática na New School em Nova Iorque, depois ocupada por Agnes Heller quando ela deixou a condição de marxista.
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