Cinema: dois mistérios num só filme

“A Noite do Dia 12” faz especulação genérica sobre a violência contra mulheres, que estaria na base de um sistema de choques de gênero, obsessões e toxicidade

(Foto: Divulgação)


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É noite. Uma jovem está a caminho de casa quando é atacada por um homem mascarado que ateia fogo em seu corpo. O assassinato de Clara será a primeira investigação de Yohan (Bastien Bouillon) no cargo recém-assumido de chefe de polícia na pequena cidade de Saint-Jean-de-Maurienne, nos Alpes franceses. O mote de A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12) serve tanto para um thriller investigativo quanto para um retrato crítico da própria polícia civil.

O dia-a-dia e noite-a-noite da equipe é marcado por tiradas de humor mórbido e másculo, ao mesmo tempo que os suspeitos se acumulam numa atmosfera de potencial feminicídio. Yohan precisa lidar com as descobertas a respeito da atração de Clara por bad boys e ao mesmo tempo conter a culpabilização da vítima. Há uma amiga de Clara que esconde fatos para proteger a reputação da amiga. E ainda resta a crise conjugal e profissional de Marceau (Bouli Lanners), principal parceiro de Yohan no trabalho.

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De um lado, temos os procedimentos típicos de interrogatórios, ligações grampeadas, vigilância, câmera oculta, etc, tudo pontuado por queixas dos policiais quanto à falta de verba e de infra-estrutura. De outro, ficamos com o enigma em torno da opacidade de Yohan. Ao mistério do assassinato somam-se nossas interrogações a respeito desse personagem, do qual nada sabemos. Nem mesmo o que o obceca nessa investigação a partir do momento em que ele vê uma foto de Clara quando menina abraçando um gatinho.

É praxe de filmes policiais modernos não levarem a um desfecho “satisfatório” para o espectador interessado em desfechos. Aqui também o diretor Dominique Moll nos deixa com uma especulação genérica sobre a violência contra mulheres, que estaria na base de um sistema onde os papéis de gênero constantemente entram em choque e onde se acumulam obsessões e machismo tóxico. 

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A narrativa é eficaz, apesar de burocrática. Seu maior trunfo é um casting perfeito e uma direção de atores muito precisa. Mesmo assim, a névoa em torno do personagem central me trouxe certa frustração. Para os franceses, esse foi o melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro nos prêmios César e Lumiére deste ano.

>> A Noite do Dia 12 está nos cinemas. 

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O trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=DO2z854wsrY 

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